Apesar de curtir muito heavy metal e muitas bandas consideradas sagradas, o Black Sabbath é uma banda que eu nunca tive muito interesse em conhecer a principio. Com o passar dos anos e o envolvimento com o heavy metal, fui conhecendo melhor o som da banda e acabei focando mais nos álbuns que tinham o eterno Dio nos vocais e acabei deixando os outros de lado. Minha visão em relação ao Black Sabbath começou a mudar drasticamente quando comecei a ler o excelente livro Heavy Metal – A História Completa, do escritor Ian Christe. Apesar de ter uma boa noção de como iniciou o heavy metal, foi através desse livro que tive a dimensão exata e principalmente da importância que o Sabbath teve para o nascimento do heavy metal.
O Black Sabbath foi praticamente à pedra fundamental para o heavy metal. Eram profetas criados à margem da sociedade inglesa, eles eram desempregados, socialmente desprezíveis e ainda moralmente suspeitos. Em 1970 a banda já havia lançado o álbum Black Sabbath, um álbum que chocou e trouxe revolução à música. Flutuando entre harmônicos zumbidos, a dimensão aterrorizante da música cresce até o clímax na mesma medida em que o juízo final persegue o relutante protagonista. A história macabra, digna de Edgar Allan Poe, contada por uma revoada de guitarras, bateria e um microfone crepitante. Assim o Black Sabbath, inspirou imediata admiração, cativou o publico completamente e também afetou a banda de modo tão irreversível, em meio à entorpecida inocência, percebeu-se levada por uma força misteriosa em direção ao sucesso. Não demoraria até se libertasse de suas origens, saindo do rock’n’roll para explorar a recém-conquistada liberdade de inovadores como Miles Davis.
O Sabbath e seus membros cultivavam uma imagem horripilante – embalada pela bruxaria e pelo misticismo de ocasião, acorrentados a bem combinadas cruzes prateadas – que deu a banda a fama de pretensos satanistas e ainda rendeu um ou outro protesto público por parte dos defensores da igreja. Antes deles, astros do rock haviam encantado a opinião publica com flores, desfiles e promessas de mudar o mundo. O Black Sabbath avançou ao fim dessa procissão, ainda professando a necessidade de amor, mas avisando aos errantes que não haveria volta a um ingênuo estado de graça.
No fim dos anos 60, o cenário do rock passava por um verdadeiro turbilhão de acontecimentos e beirava a decadência. Fatos como as quatro mortes ocorridas no show dos Rolling Stones, no Altamont Receway, em dezembro de 69, chocaram a comunidade do rock e deixaram os jovens desiludidos com os ideias pacifistas. Depois disso em abril 1970, enquanto o Sabbath estava bem posicionado nas listas dos mais vendidos, Paul MacCartney anunciava a efetiva separação dos Beatles e ainda Jonis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, em vez de confortar seu publico nesse mundo já tão incerto, morreriam de overdose em menos de um ano. A geração “paz e amor” que havia criado a contracultura, agora já cansada e frustrada, voltava em hordas para onde havia nascido ou ia em direção as montanhas – qualquer coisa que exorcizasse os pesadelos descomunais da utopia que havia entrado em colapso. Esse era o cenário no final dos anos 60.
Em meio a isso, o Sabbath parecia fortalecer-se, apesar de tais adversidades, e nunca fingia ter respostas para além das ocasionais exortações de amor ao próximo. Embora retratados como pobres coitados e desordeiros, o álbum de lançamento da banda logo alcançou a lista dos dez mais vendidos da Inglaterra. Em sua turnê inaugural pelos EUA, planejada em meados de 1970, foi cancelada graças ao julgamento de Manson, pois o clima do país era de pouca hospitalidade com tipos aparentemente perigosos. Então a Vertigo Records, tanto tentou que acabou conseguindo extrair mais material inédito d abanda, ao interromper a tour e recrutá-los para outro período de gravações em setembro de 1970.
Então bem mais entrosada e com propósito criativo intensificado a banda emergiu depois de dois dias de gravação com o seu álbum mais vendido, o poderoso Paranoid (1970), do qual saíram as músicas “War Pigs”, “Paranoid” e “Iron Man”.
Embora Paranoid (1970) mantivesse o assustador espirito do Black Sabbath, as propostas do segundo álbum eram menos místicas e mais tangíveis. Ozzy Osbourne, obcecado por temas como estrago e perda de controle, discorre sobre os males do vício em “Hand of Doom”, guerra nuclear em “Eletric Funeral” e trauma psicológico causado pela guerra em “Iron Man”. Assim como a impressionante faixa-titulo, a alma de “Paranoid” ainda parecia vir de uma publicação ocultista, Walpurgis, cuja a letra suscitava imagens como “as bruxas em missas negras” e “os feiticeiros da morte”. Quando gravada para o álbum Paranoid (1970), entretanto, a música foi levemente reescrita e virou “War Pigs”, um cataclísmico hino antiguerra, que acusava políticos de enviarem jovens pobres para fazer o trabalho sujo no lugar dos bancos e da nação.
Os membros do Sabbath agora tinham experiência não apenas como músicos, mas como porta-vozes de uma geração. Se a mudança aconteceria via música, o letrista Geezer Butler entendeu que teria de combater tudo que era feio logo na linha de frente. As novas músicas do Black Sabbath buscavam paz e amor, mas não nos moldes de Donovan e Jefferson Airplane, e, sim, na endurecida realidade de campos de batalha e fornos humanos. Ozzy Osbourne despejava as letras como em um transe, lendo mensagens dotadas de muita verdade.
Paranoid (1970) foi uma espécie de âncora para o heavy metal. Se antes a banda tinha uma proposta aterrorizadora em suas letras, nesse álbum isso não aconteceu com tanta ênfase, fato é que a banda buscou uma variedade, abordando temas bélico-politicas e de ficção cientifica, tudo girando em torno de uma critica severa.
O Black Sabbath teve uma importância sem precedentes para o heavy metal, que naquele tempo até existia, mas não era ligado a um gênero musical. Sem o Black Sabbath, a expressão "heavy metal", seria apenas um acidente poético, a profecia vazia contida no texto escrito por milhares de macacos brincando de máquinas de escrever, tentando escrever a Bíblia.
Track List
01. War Pigs
02. Paranoid
03. Planet Caravan
04. Iron Man
05. Electric Funeral
06. Hard of Doom
07. Rat Salad
08. Fairies Wear Boots
Ozzy Osbourne (vocal)
Tony Iommi (guitarra)
Geezer Butler (baixo)
Bill Ward (bateria)
Black Sabbath - Paranoid
Black Sabbath - Iron Man
** O texto em sua maioria foi retirado do livro “Heavy Metal – A História Completa” do escritor Ian Christe **
O Black Sabbath foi praticamente à pedra fundamental para o heavy metal. Eram profetas criados à margem da sociedade inglesa, eles eram desempregados, socialmente desprezíveis e ainda moralmente suspeitos. Em 1970 a banda já havia lançado o álbum Black Sabbath, um álbum que chocou e trouxe revolução à música. Flutuando entre harmônicos zumbidos, a dimensão aterrorizante da música cresce até o clímax na mesma medida em que o juízo final persegue o relutante protagonista. A história macabra, digna de Edgar Allan Poe, contada por uma revoada de guitarras, bateria e um microfone crepitante. Assim o Black Sabbath, inspirou imediata admiração, cativou o publico completamente e também afetou a banda de modo tão irreversível, em meio à entorpecida inocência, percebeu-se levada por uma força misteriosa em direção ao sucesso. Não demoraria até se libertasse de suas origens, saindo do rock’n’roll para explorar a recém-conquistada liberdade de inovadores como Miles Davis.
O Sabbath e seus membros cultivavam uma imagem horripilante – embalada pela bruxaria e pelo misticismo de ocasião, acorrentados a bem combinadas cruzes prateadas – que deu a banda a fama de pretensos satanistas e ainda rendeu um ou outro protesto público por parte dos defensores da igreja. Antes deles, astros do rock haviam encantado a opinião publica com flores, desfiles e promessas de mudar o mundo. O Black Sabbath avançou ao fim dessa procissão, ainda professando a necessidade de amor, mas avisando aos errantes que não haveria volta a um ingênuo estado de graça.
No fim dos anos 60, o cenário do rock passava por um verdadeiro turbilhão de acontecimentos e beirava a decadência. Fatos como as quatro mortes ocorridas no show dos Rolling Stones, no Altamont Receway, em dezembro de 69, chocaram a comunidade do rock e deixaram os jovens desiludidos com os ideias pacifistas. Depois disso em abril 1970, enquanto o Sabbath estava bem posicionado nas listas dos mais vendidos, Paul MacCartney anunciava a efetiva separação dos Beatles e ainda Jonis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, em vez de confortar seu publico nesse mundo já tão incerto, morreriam de overdose em menos de um ano. A geração “paz e amor” que havia criado a contracultura, agora já cansada e frustrada, voltava em hordas para onde havia nascido ou ia em direção as montanhas – qualquer coisa que exorcizasse os pesadelos descomunais da utopia que havia entrado em colapso. Esse era o cenário no final dos anos 60.
Em meio a isso, o Sabbath parecia fortalecer-se, apesar de tais adversidades, e nunca fingia ter respostas para além das ocasionais exortações de amor ao próximo. Embora retratados como pobres coitados e desordeiros, o álbum de lançamento da banda logo alcançou a lista dos dez mais vendidos da Inglaterra. Em sua turnê inaugural pelos EUA, planejada em meados de 1970, foi cancelada graças ao julgamento de Manson, pois o clima do país era de pouca hospitalidade com tipos aparentemente perigosos. Então a Vertigo Records, tanto tentou que acabou conseguindo extrair mais material inédito d abanda, ao interromper a tour e recrutá-los para outro período de gravações em setembro de 1970.
Então bem mais entrosada e com propósito criativo intensificado a banda emergiu depois de dois dias de gravação com o seu álbum mais vendido, o poderoso Paranoid (1970), do qual saíram as músicas “War Pigs”, “Paranoid” e “Iron Man”.
Embora Paranoid (1970) mantivesse o assustador espirito do Black Sabbath, as propostas do segundo álbum eram menos místicas e mais tangíveis. Ozzy Osbourne, obcecado por temas como estrago e perda de controle, discorre sobre os males do vício em “Hand of Doom”, guerra nuclear em “Eletric Funeral” e trauma psicológico causado pela guerra em “Iron Man”. Assim como a impressionante faixa-titulo, a alma de “Paranoid” ainda parecia vir de uma publicação ocultista, Walpurgis, cuja a letra suscitava imagens como “as bruxas em missas negras” e “os feiticeiros da morte”. Quando gravada para o álbum Paranoid (1970), entretanto, a música foi levemente reescrita e virou “War Pigs”, um cataclísmico hino antiguerra, que acusava políticos de enviarem jovens pobres para fazer o trabalho sujo no lugar dos bancos e da nação.
Os membros do Sabbath agora tinham experiência não apenas como músicos, mas como porta-vozes de uma geração. Se a mudança aconteceria via música, o letrista Geezer Butler entendeu que teria de combater tudo que era feio logo na linha de frente. As novas músicas do Black Sabbath buscavam paz e amor, mas não nos moldes de Donovan e Jefferson Airplane, e, sim, na endurecida realidade de campos de batalha e fornos humanos. Ozzy Osbourne despejava as letras como em um transe, lendo mensagens dotadas de muita verdade.
Paranoid (1970) foi uma espécie de âncora para o heavy metal. Se antes a banda tinha uma proposta aterrorizadora em suas letras, nesse álbum isso não aconteceu com tanta ênfase, fato é que a banda buscou uma variedade, abordando temas bélico-politicas e de ficção cientifica, tudo girando em torno de uma critica severa.
O Black Sabbath teve uma importância sem precedentes para o heavy metal, que naquele tempo até existia, mas não era ligado a um gênero musical. Sem o Black Sabbath, a expressão "heavy metal", seria apenas um acidente poético, a profecia vazia contida no texto escrito por milhares de macacos brincando de máquinas de escrever, tentando escrever a Bíblia.
Track List
01. War Pigs
02. Paranoid
03. Planet Caravan
04. Iron Man
05. Electric Funeral
06. Hard of Doom
07. Rat Salad
08. Fairies Wear Boots
Ozzy Osbourne (vocal)
Tony Iommi (guitarra)
Geezer Butler (baixo)
Bill Ward (bateria)
Black Sabbath - Paranoid
Black Sabbath - Iron Man
** O texto em sua maioria foi retirado do livro “Heavy Metal – A História Completa” do escritor Ian Christe **