Por Daniel Argentino e Marcello Lopes
Como é bom ouvir um som inovador e de qualidade. Às vezes passamos muito tempo a procura disso e quando encontramos a sensação é uma só: Divulgar isso para o maior número de pessoas. E aconteceu comigo quando descobri o som da banda Numismata. Na época que divulguei aqui no Blog Jazz e Rock o CD “Chorume”, eu disse que a banda era uma das grandes surpresas da nova geração da música brasileira, o que me chamou atenção foi o som, era inovador, diferente de tudo que eu conhecia no cenário nacional, tinha samba e MPB, com uma pegada de rock e efeitos psicodélicos, depois prestei atenção nas letras, todas bem elaboradas e inteligentes. Enfim, desde então passei a divulgá-los da melhor maneira possível, não poderia ouvir sozinho, pois seria egoísmo da minha parte. Depois de um tempo pensei em tentar uma possível entrevista, seria outra maneira de divulgar e conhecer melhor a história deles. Logo no primeiro contato fui muito bem atendido pela Pamela Leme (Assessora de Imprensa) e ela contribuiu de forma positiva para que a entrevista fosse realizada.
Quero deixar meus agradecimentos a todos os músicos da banda Numismata, em especial aos guitarristas Adalberto Rabelo Filho e André Vilela, que separaram um tempo para atender o Blog Jazz e Rock, a Pamela Leme que me atendeu muito bem e contribuiu para que tudo isso fosse feito e claro ao Marcello Lopes, parceiro que ajudou e muito na entrevista.
E aos leitores, espero que gostem da entrevista está imperdível e claro não deixem de conhecer o som do Numismata.
JR - O Numismata apareceu no cenário musical como uma banda diferenciada, com característica própria e som ousado. Fale um pouco sobre a história banda, como vocês se conheceram e como surgiu a idéia de formar o Numismata. Antes da banda, o que vocês faziam?
André Vilela – A banda original tinha o Carlos H., o Adalberto e o Russo, que saiu e voltou depois. Eu já conhecia o Adal, que me chamou em 2002 e eu trouxe o Piero comigo.
Adalberto – Bom, a gente se conhece de diferentes épocas da vida, mas se uniu pelo propósito comum de tocar música que a gente ache boa e se divertir com isso. O André e o Piero se conhecem faz um tempão e tiveram uma banda juntos, o “Amarelo Piscante”. Eu, o Carlão e o Russo também tivemos uma banda juntos, chamada “Mal Secreto”. O primeiro batera, o Falcão, era o batera da minha banda de rock, o “aardvark”, e o Felipe tocou com o Piero no “Piap”, que eu me lembre.
Acho que a diversidade é a marca registrada da música de qualidade, por isso é uma formação que demanda muito trabalho, mas é ao mesmo tempo muito prazerosa, porque não há como a gente seguir a convenção de um gênero específico, já que cada um é um “especialista” num tipo de linguagem e seria, eu creio, uma burrice tremenda ao invés de exacerbar o potencial dessas pessoas, tolher o seu talento criando limitações de gênero.
Essa questão de ser uma banda diferenciada é bastante subjetiva – eu realmente acho que a gente é, com todas as nossas peculiaridades, mas muitas vezes fomos jogados à revelia no balaio do “indie-samba”. Se a gente conquistou, espera-se, com nosso som, a nossa independência de rótulos, é porque a gente deve estar fazendo algo certo, não?
Essa coisa de se colocar sob a sombra de um grande nome todo um leque de artistas de diferentes gêneros é uma coisa recorrente e muito prejudicial aqui no Brasil. Inclusive pra banda merecedora da consagração, que acaba tendo que atender a expectativas irreais.
JR - Quais são as influências musicais dos membros da banda?
Adalberto – Olha, é a coisa mais difícil de definir. Pra falar a verdade, somando os gostos específicos de cada membro da banda, não há um gênero musical que não influencie a gente.
André – Não saberia dizer o quanto essas influências ajudam a entender o som da gente. Eu tenho ouvido muito jazz.
JR - E como foi reunir todas essas influencias e chegar a um consenso em relação ao som do Numismata?
André – De uma maneira positiva, nosso som não busca consenso, busca diversidade, mesmo. Por isso o “Chorume” é como é.
Adalberto – A gente tem, sim, um consenso dentro da banda: de que só existem dois tipos de música, como diria o Tião Carreiro, a boa e a ruim. E a gente respeita a liberdade de cada um interferir no processo, porque sabe do potencial de transformação daquela parada. Isso porque a gente acredita naquele velho exemplo do iPod: se no meu iPod tem Slayer, Paralamas, Beck, Yma Sumac, sei lá mais o que, isso tem de transparecer na arte que eu produzo. Qualquer outra maneira seria censura, e a pior de todas: a auto-imposta.
JR - O primeiro álbum, "Brazilians on the Moon", foi lançado em 2003 e por um selo independente. Quais foram as principais adversidades que vocês encontraram para que esse projeto fosse realizado?
Adalberto – Milhões. Gravar, mixar, lançar, chegar ao público consumidor, ao chamado público-alvo, resistência da mídia, falta de canais de divulgação, de casas de show pelo Brasil, de infra-estrutura. A gente só conseguiu um bando de coisa “with a little help from our friends”, como o Bussab, que sempre curtiu nosso som e apostou na gente, depois a galera da Agência Alavanca e o pessoal da Pimba!.
JR - Ainda sobre o primeiro álbum, vocês contaram com participações especiais de músicos e compositores, entre eles Skowa, Jards Macalé e da cantora da banda de rock alternativo Ludov, Vanessa Krongold. Sem dúvida, foi um grande troca de informações, afinal são músicos de outros estilos. De que forma isso foi aproveitado por vocês?
Adalberto – A gente sempre aproveita essas chances pra aprender com quem a gente acredita que tem o que ensinar.
JR - "Chorume" é trabalho mais recente da banda. Como ele surgiu? E por que este nome? Tem algum significado?
Adalberto – Ele surgiu há dez mil anos atrás, quando a gente ainda estava lançando o Brazilians. Prejuízo, a música que o melodia gravou, a gente já tocou no MAM na nossa estreia. Chorume é uma palavra legal, porque é uma palavra comum da língua portuguesa, mas de pouco uso corrente. Então, muita gente pode ouvir e achar que se trata de choro, mesmo, de tristeza. Também tem esse significado da opulência, que é meio a cara do disco, recheado de arranjos e detalhes. Tem essa história de ser também o suprassumo do lixo, o "melhor" do lixo, a parte que se aproveita de alguma forma como combustível. Acho saudável essa conotação irônica, acho que se levar muito a sério toda hora é uma coisa nada a ver.
JR - No "Chorume" vocês também tiveram participações de vários músicos, mas fale sobre a importância de ter Luiz Melodia envolvido nesse trabalho. Como surgiu o convite?
Adalberto – Importância total, né? O cara é um professor de música. Não é pagação de pau, no sentido de babar ovo, não. É aquela coisa: se o cara fosse um advogado bom pra caralho e você estudasse Direito, você não ia querer ter aula com ele na São Francisco? Acho que conhecimento nunca é demais, a gente tem sempre o que melhorar, o que acrescentar. Não pode ficar com pudores, não, nem achar que existe algum problema em se aproximar desses caras, com medo de ser desmerecido porque está dando uma de fã e não de músico. Aprender com o Melodia é coisa de músico.
O convite foi um barato: eu estava conversando com Jards Macalé depois de um show que ele fez com o Melodia. Então o Melodia entra no camarim e eles começam a bater papo, dar risada. No meio da conversa, o Macalé falou para Melodia, daquele jeito dele: "Esse aqui (apontando pra mim) é roqueiro. Tudo maluco, saca? Gravou 'Mal Secreto' no disco do Numismata, eu cantei com eles, uma versão moderníssíma, precisa ouvir!'. Nessas, o Melodia virou e disse: "Me convida também!", e eu: "Sério?", e ele, batendo no pescoço: "Claro, cara! Negão aqui tem gogó!" Caímos na risada e eu falei: "Olha, cara, eu vou ser chato, hein, é sério mesmo essa história, podemos combinar?", e ele, com cara de sério: "Mas é claro, tá me tirando?". Praticamente uma intimação. E ele nem tinha ouvido Numismata ainda, eu acho.
JR - “A Vida Como Ela é” é, na minha opinião, uma das músicas mais irreverentes e divertidas. Como surgiu essa ideia de incluir uma marchinha de carnaval álbum?
Adalberto – Não foi caso pensado, não. A gente compôs a música, adorou e falou: vamos gravar essa com a Alcina (com quem a gente já tinha tocado no projeto Circuito Original e no disco dela, o Maria Alcina Confete e Serpentina)? E rolou!
JR - Qual a opinião de vocês em relação ao download de músicas? Isso ajuda ou atrapalha o músico?
André – Bom, o mercado de música mudou mesmo. Os downloads seguem o esquema de divulgação boca-a-boca e fita K7 que sempre existiu. Acho que as redes só potencializaram isso em larga escala e as iniciativas individuais invaidaram o mercado. Se fosse fácil gravar uma fita K7 e dividir com todos os amigos pelo correio, isso já teria acontecido há muito tempo. No nosso caso, sem isso, com certeza seríamos muito menos conhecidos.
Adalberto – Não sei se eu tenho uma opinião formado a respeito disso. Do meu ponto de vista, parece que ajuda, mas não sei mensurar, eu não sei quanto tem de dispersão, o quanto isso, por outro lado, no sentido de dar a mesma relevância a propostas com qualidades diferentes, não acaba por nivelar um pouco por baixo.
Eu sei que é um processo democrático e tal, e que, nesse ponto, a coisa é bacana, porque eu ainda não conheço sistema mais justo que a democracia, mas justamente por eu achar que essa coisa da distribuição gratuita desse conteúdo ainda é um processo em formação, e não um sistema já fechado, é que eu não consigo definir qual é que é o papel exato do download. Por isso, peço perdão e sigo o caminho do meio, que parece ser sempre o mais adequado: nem tanto ao céu nem tanto à terra.
Dito isso, eu acho do caralho saber que tem alguém na Nova Zelândia ou em Burkina Faso que pode, nesse exato momento, estar ouvindo Chorume no laptop, mesmo sem entender patavina do que a gente tá cantando, bastando apenas alguns minutos para ter acesso ao nosso disco.
JR - Como vocês vêem o cenário musical brasileiro atual?
Adalberto – Com bons olhos. Tem muita gente bacana aí aparecendo, mas ainda penso que dá pra ser melhor, ainda mais forte, ainda mais intenso, ainda mais ousado.
André – Só acho uma pena que seja tão difícil a convivência entre produções novas e maravilhosas e os artistas consagrados. Mídia brasileira tem uma mania provinciana de insistir em medalhões. Tem que redimensionar o espaço.
JR - Quais os planos do Numismata para o futuro?
Adalberto – Gravar, compor, tocar, se divertir, não necessariamente nessa ordem.
Nas últimas entrevistas, inauguramos uma nova coluna no blog. É uma cópia descarada de uma coluna da Cover Guitarra. Indo direto ao ponto:
JR - Pra vocês, qual é o melhor álbum da história?
André – Ih. Não dá pra escolher, desculpa. Mas o Latin America Suite, do Duke Elington, me veio à cabeça. Eu poderia apontar mais 100, no mínimo.
Adalberto – Putz, impossível responder. Numa outra entrevista citei o Odelay, do Beck, como representativo da nossa visão. Dylan, Chico, Caetano, Tom Zé, Miles Davis, Beatles, isso é hours concours, não tem graça falar, é patrimônio da humanidade, já. Então, hoje tô afim de citar o primeiro do Stone Roses. Puta discaço! “Elephant Stone”, com a produção do Peter Hook, é foda demais.
JR - Qual disco vocês ouviram bastante na última semana?
André – Nesta semana, ouvi Wes Montgomery e Brian Setzer Orchestra incansavelmente.
Adalberto – Eu ouvi pra caramba Johnny Cash: American VI, Free Ride, de Dizzy Gillespie e Lalo Schifrin, Clube da Esquina, Heavy Ghost, de DM Stith, Them Crooked Vultures, Among My Swan, de Mazzy Star, Caipira, de Rolando Boldrin, Dois Cordões, de Alessandra Leão, e Severino, dos Paralamas do Sucesso.
JR - Qual disco vocês curtem, mas tem vergonha de admitir?
Adalberto – Bom, eu não tenho vergonha de admitir nada, não.
André – Não também não tenho vergonha de admitir nada em matéria de musica. Mas talvez atenda à sua pergunta eu dizer que adoro o primeiro do Rigth Said Fred. Acho genial.
Site Oficial: Numismata
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