Poucos fãs do Wilco, excelente banda americana de rock alternativo, sabem da trajetória do seu atual guitarrista e arranjador principal: o multifacetado Nels Cline. Poucos sabem, por exemplo, que Cline não começou sua carreira musical em uma banda de rock, mas sim no cenário da livre improvisação em Los Angeles, no final dos anos 70. Ora, sabemos que o termo e o estilo da “livre improvisação” ou “free improvisation” advêm da estética do Free Jazz, estilo de jazz cacofônico fundado pelo saxofonista Ornette Coleman nos anos 60, e Nels Cline, desde sua adolescência, passou à cultivar o gosto não só pelo rock da sua época – época essa que trouxe ao mundo a fúria e a frieza do punk, da new wave e do hardcore –, mas também foi atraído pelos ruídos e pela cacofonia dessa música totalmente improvisada que fora originada da experimentação jazzística. A sua primeira aparição como guitarrista e sideman, por exemplo, foi aos 22 anos no disco Openhearted, lançado em 1978 pelo vanguardista saxofonista Vinny Golia. Desde então, Cline já participou de mais de 70 discos – dentre os quais se destaca as suas colaborações com o saxofonista Tim Berne e a Liberation Music Orchestra, do contrabaixista Charlie Haden –, imprimindo uma carreira que aborda do free jazz à música experimental e ao noise, passando também pelo rock alternativo, pelo pop e pela country music.
Em seus mais de 30 anos de carreira, pode-se dizer que Nels Cline já alcançou sua merecida fama e prestígio por lançar trabalhos primorosos na área da improvisação de categoria denominada avant-garde. Nesse campo estritamente instrumental, o estilo de Cline é denominado por uma improvisação que ora pode soar totalmente livre e cacofônica, ora pode soar estruturada e melódica; assim como há discos onde suas criações soam ora jazzísticas e outrora imprimem uma roupagem mais “punk-rock”, psicodélica ou até noise mesmo, muitas vezes com o uso de efeitos eletrônicos ou manipulação eletroacústica. Atuando nessa linha de trabalho, um dos seus grupos que mais ficou conhecido pelo público e já foi amplamente exaltado pela mídia especializada, por exemplo, é o Quartet Music, com o baterista Alex Cline (seu irmão), o contrabaixista Eric Von Essen e o violinista Jeff Gauthier. Além desse quarteto, outro grupo de “free improvisation” que se solidificou e produziu trabalhos interessantes foi o Nels Cline Trio: com ele na guitarra, Mark London Sims no contrabaixo e Michael Preussner na bateria (posto que seria ocupado também pelos bateristas Bob Mair e Mike Watt). Mas Nels Cline já lançou outros trabalhos bem interessantes e oportunos com bandas, grupos e parcerias que não foram formados para se solidificarem ou que foram formados apenas ocasionalmente: é o caso dos trabalhos com o Acousti Guitar Trio (com três guitarras acústicas), a parceria com o guitarrista Thurston Moore (da legendária banda Sonic Youth) nos discos experimentais In-Store e Pillow Wand, bem como a parceria com o baterista Gregg Bendian no fantástico disco Interstellar Space Revisited: The Music of John Coltrane, uma releitura psicodélica da suite Interstellar Space, lançada pelo saxofonista John Coltrane em sua fase free jazz, pouco antes de falecer em 1967
Afora esses projetos instrumentais, vale lembrar que Nels Cline sempre foi bem antenado com bandas de rock alternativo que imprimem uma roupagem mais experimental e original: além de ter trabalhado com Thurston Moore, do Sonic Youth, ele tambem foi membro dos Geraldine Fibbers, banda de country-rock moderno fundada pela cantora Carla Bozulich. Com um currículo de experiências vastas e sua já conhecida versatilidade, em 2004 Nels Cline seria convidado para assumir o posto de guitarrista principal da banda Wilco que, inicialmente influenciada pelo country e folk, estabeleceu-se como uma das principais bandas do rock alternativo dos anos 90 e 2000. Ademais, a não perder está seu mais recente solo, o álbum Coward, lançado em 2009, com faixas inspiradas em suas principais influências: como as compositoras de jazz Carla Bley e Annette Peacock, o compositor erudito Steve Reich e camaradas como Thuston Moore e Jeff Gauthier, dentre outras influências.
Ouça no Farofa Moderna MTV: “Saturn” (do disco Interstellar Space Revisited, homenagem à John Coltrane lançada em 2001, em pareceria com o baterista Gregg Bendian), “Little Shaver” ( do disco Sad, lançado em 1998 com o Nels Cline Trio) e “Thurston County (faixa do disco Coward, de 2009, composta em homenagem à Thurston Moore). Ouça Aqui no Farofa Moderna MTV. Boa Viagem
vcs tem o link destes CDs?
ResponderExcluiradoro Neils Cline.
Vou ficar devendo Donati. Eu não tenho nenhum álbum do Nels.
ResponderExcluirAbraço
Marcelo, fique antenado no blog farofa moderna www.farofamoderna.blogspot.com que em breve postarei um link direcionando a galera pra baixar um ou dois discos do nels cline!
ResponderExcluirabraço