domingo, 30 de janeiro de 2011

Entrevista Exclusiva: Flávio Guimarães

Olá...

O Blog Jazz e Rock traz mais uma entrevista exclusiva, dessa vez com um dos melhores gaitistas do Brasil e do mundo! Flávio Guimarães prova que é um amante do blues e um estudioso do estilo. Além de ser um grande sujeito!


Por Thiago Teberga

Flavio, conte-nos como foi o seu inicio na música? Como teve o seu primeiro contato com a gaita?

FG
: O pai de um amigo da escola tinha umas gaitas engavetadas e me emprestou. Depois, assisti shows de Maurício Einhorn e Rildo Hora e decidi aprender , por volta de 1984. Tive aulas de gaita cromática com Einhorn, mas ao ouvir a gaita diatônica, mudei de instrumento e de rumo, indo para o blues e rock.

Quais foram os seus primeiros “heróis” na musica?

FG: Little Walter, Sonnyboy Williamson II, Walter Horton.

E hoje quais são as suas principais influências musicais?

FG: Sugar Blue, Paul Butterfield, Charlie Musselwhite quando comecei.
Hoje: Rick Estrin, Kim Wilson, Steve Guyger, Mitch Kashmar, Gary Smith, Joe Filisko, Andy Just, R. J. Mischo e tantos outros que admiro que não caberia aqui.

Você costuma ouvir blues no seu dia-a-dia ou você é um ouvinte eclético?

FG: Eclético , mas sempre escuto 70% de blues com o intuito de perceber melhor os detalhes e seguir me aprimorando.

Você é um musico muito requisitado, como faz pra levar tantos compromissos e manter sua carreira solo e o trabalho com o Blues Etilicos?

FG: Acho que os 25 anos de estrada ensinaram como administrar essa parte.

Agora uma curiosidade de fã(rs) Como é tocar com um time tão competente como o Blues Etilicos, existem muitas discussões na escolha de repertorio e arranjos, ou sempre rolam unanimidades?

FG: Hoje já nos conhecemos e nos respeitamos tanto que tudo flui fácil. Mas no início, pra qualquer banda, pode ser bem difícil.

Como foi o processo de gravação do seu novo álbum? Qual foi seu critério para fazer o repertorio desse álbum?

FG: The Blues Follows Me é um tributo a Little Walter e tive a sorte de ser acompanhado pela Igor Prado Blues Band, que conhece essa linguagem como poucos no mundo.

Você já tocou com varias “feras” do blues, teve alguma dessas parcerias que te marcou mais que as outras?

FG: Com Charlie Musselwhite.

Na sua opinião, quem são novos talentos do blues nacional?

FG: Thiago Cerveira, Igor Prado Blues Band, Ivan Márcio, Marcelo Naves, Sérgio Duarte, Marcio abdo, Marcio Maresia, Blues The Ville, Big Chico e muita gente bacana em são Paulo, Gustavo Cocentino (de Natal), Ablusados (de Goiania) , Tiffany Helga , The Headcutters e Carlos May (de SC), Blues Groovers, Álamo Leal, Rodica, Maurício Sahady, Ricardo Werther (do Rio)

Qual seu equipamento de estúdio e de palco? Você é patrocinado por alguma marca?

FG: Sou o primeiro endorser das harmônicas Hohner em toda América do Sul e de fato elas são as melhores gaitas do mundo. uso amplificadores valvulados SERRANO AMPS (melhor que os importados) e microfones Astatic JT 30.


Como você vê o cenário da música no Brasil atualmente?

FG: Vejo muita coisa positiva e muitos talentos na nossa música, uma das maiores riquesas desse país. Vejo isso na música brasileira em geral, vocal e instrumental.

Vejo por outro lado, no chamado blues nacional, uma classe desunida que se desvaloriza. Vejo músicos e bandas que dizem tocar blues se oferecendo pra tocar praticamente de graça em festivais patrocinados por leis de incentivo, numa nítida competição desleal , um verdadeiro "dumping". Vejo"artistas de blues" nacionais que não se esforçaram o suficiente para aprender os rudimentos básicos de acompanhamento e ritmo nem respeitam o idioma original desse estilo, cantando com pronúncias e sotaques sofríveis. Vejo muito amadorismo, só que o público está começando a ver também , percebendo a diferença entre quem toca de verdade e quem finge que toca. Novos músicos de blues estão vindo com tudo, talento e profissionalismo e nós que somos de gerações anteriores jamais podemos nos acomodar. O aprendizado e aprimoramento de um músico nunca pode cessar.

Você acha que o blues feito no Brasil hoje é um blues que se difere do feito no resto do mundo?

FG: O blues é uma forma de arte tradicional. É como o nosso Choro. Pra se saber tocar choro, tem de estudar muito Jacob do Bandolim, Waldir Azevede, Pixinguinha e tantos outros.

Acho que muita gente no Brasil acha que o blues é uma forma livre feita em cima de 3 acordes e 12 compassos, que qualquer coisa é blues desde que siga esses parâmetros. É um equívoco.

O blues é um idioma musical que já foi estabelecido há muitos anos. Para se aprender blues além das obviedades de sua harmonia tem de estudar a fundo sua história e seus grandes mestres, que criaram e estabeleceram essa linguagem musical há muito tempo atrás. No caso do blues elétrico , uma boa pesquisa em todo acervo da Chess Records (entre fins dos anos 40 e meados dos anos 60) é mais que obrigatório para se entender essa linguagem.

Nas ultimas entrevistas, inauguramos uma nova coluna no BLOG. É uma cópia descarada (risos) de uma coluna da Cover Guitarra. Indo direto ao ponto:

Pra você qual é o melhor álbum da história?

FG: A coleção completa da Chess com 5 CDs - Little Walter.

Qual disco você tem ouvido bastante na última semana?

FG: Ricardo Werther - The Turning Point.

Qual disco você curte, mas tem vergonha de admitir?

FG: Eu admito todos que gosto, de Luis Gonzaga a Paulinho da Viola ,de Lenine a Cartola.
Tom Jobim, Paulo Moura , João Donato, Leo Gandelman ... muito blues e jazz ... só coisa boa !

De engraçado, eu admito que gosto do desenho animado Back Yardigans e adoro a música tema desse programa infantil.

Abraço,
Flávio

Flavio quero agradecer a oportunidade da entrevista , sem dúvida uma oportunidade de conhecer o seu trabalho e um pouco da sua história e trajetória musical. Desejo muito sucesso para você ! Grande Abraço !

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ari Borger

2002 - Blues da Garantia
Gênero: Blues



Depois de uma semana repleta de novidades e clássicos, nada melhor do que encerra-la em alto nível. Ari Borger é um velho conhecido dos leitores assiduos do Blog Jazz e Rock, depois de postar “AB4” e “Backyard Jam”, apresento agora “Blues da Garantia”, o primeiro álbum solo do organista.

Gravado em um estúdio, na cidade de New Orleans, o álbum tem uma pegada bem diferente dos outros, “Blues da Garantia” tem como base o blues. Nessa época Ari não tinha formado o quarteto ainda, o que só aconteceria no álbum “AB4”, mais nem por isso o organista deixou de contar com bons músicos, ao lado de músicos de blues da cena local, como Jack Cole (guitarra) e Ivone Willians (vocal), Ari Borger cria um ambiente fantástico, e apresenta um repertório baseado em canções autorais e alguns clássicos, como “A Man and the Blues” de Buddy Guy, “Dust My Broom” de Elmore James e “Trouble Blues” de Charles Bown. A grande surpresa é a faixa-titulo “Blues da Garantia”, presente do guitarrista/vocalista Herbert Vianna (dos Paralamas), que além de presentear, ainda participa cantando e tocando ao lado de Ari Borger. Destaque também para as composições próprias do Ari Borger, como “B3 Explosion”, blues instrumental da melhor qualidade, sob uma base solida, Ari cria improvissos geniais. “Hot Boogie” é outra música genial, ao melhor estilo boogie-woogie. Em “Crazy Kind of Woman” é um blues contagiente e que tem nos vocais Ivone Willians, diga-se de passagem com um refrão grudento. “B3 Groove” e “Borger`s Boogie”, são dois temas instrumentais criados por Ari. Por fim a música “Song for Fess”, um blues mais cadenciado, com Iove Willians nos vocais e Ari Borger mais uma vez mandando muito bem no piano.

Em todas as postagens, eu sempre faço questão de citar os músicos que estiveram envolvidos na gravação, e nesse caso a falta de informações sobre o álbum foi sem dúvida a maior dificuldade que eu encontrei, e como já citei o Ari contou com a participação dos músicos locais como Jack Cole (guitarra), Ivone Willians (vocal), Jack Carter (baixo) e Willie Panker (bateria). Em um site encontrei a informação de músicos brasileiros que estiveram envolvidos também, o já citado Herbert Vianna (guitarra/vocal), Alexandre Fontanetti (guitarra), Silvio Alemão ( baixo) e Kiko Rainer (bateria).

O álbum “Blues da Garantia” é um álbum sensacional e sem sombra de dúvidas figura entre os melhores álbuns de blues lançado por um músico brasileiro. E em se tratando de Ari Borger, bom, seus trabalhos dispensam comentários. Faça desse álbum a trilha sonora do seu fim de semana. Boa Audição.

Ouça a música: "Blues da Garantia" (Ari Borger e Herbert Vianna)


Track List

01. B3 Explosion
02. Blues Da Garantia
03. Dust My Broom
04. Hot Boogie
05. A Man And The Blues
06. Crazy Kind Of Woman
07. B3 Groove
08. Cuíca Blues
09. Borger`s Boogie
10. Trouble Blues
11. Song For Fess

Site Oficial: Ari Borger

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Tal Farlow

1969 - The Return Of Tal Farlow
Gênero: Jazz / Bebop / Mainstream Jazz / Cool Jazz



Tal Farlow possuía uma técnica impecável, habilidoso e dono de uma velocidade considerada incrível, seus fraseados virtuosos e cheios de swing, fizeram dele um dos melhores e mais conhecidos guitarristas de jazz da história. Sua facilidade e a maneira como tocava, rendeu a ele o apelido de polvo, suas mãos eram grandes e seus dedos eram como tentáculos, envolviam a guitarrista de tal forma que o guitarrista conseguia reproduzir qualquer solo ou fraseado com uma agilidade incrível.

Tal Farlow nasceu em Greensboro, Carolina do Norte, em 1921. Como todo grande músico, foi criado em um ambiente musical, seu pai tocava vários instrumentos, enquanto sua mãe e irmã tocavam piano. Tal trabalhava como pintor de tabuleta ou de letreiros de comércio, continuou na profissão por toda sua vida, sempre em paralelo com sua carreira musical. Seu interesse pela música aconteceu após ouvir pela primeira vez no rádio o guitarrista Charlie Christian, depois disso Tal Farlow ficou tão impressionado pela maneira como Charlie tocava, que aprendeu a tocar sozinho todos os solos do guitarrista, ouvindo somente os discos do Benny Goodman. Na década de 40, tocou e participou de uma série de gravações com Buddy DeFranco, Artie Shaw, durante um período fez parte do trio do vibrafonista Red Norvo, mais foi na década de 50 que Tal Farlow alcançou ainda mais reconhecimento, após gravar os álbuns “Tal” (1956), “This is Tal Farlow” (1958), “Autumn in New York” e “The Tal Farlow Album”. Depois disso, o guitarrista mudou-se para Sea Bright, Nova Jersey, onde voltou ao seu trabalho como pintor e também se apresentava em clubes locais e de tempos em tempos fazia uma ou outra gravação. Em 1962 a Gibson produziu um modelo de guitarra exclusiva para Tal Farlow, como uma forma de homenageá-lo. Foram produzidos apenas 215 exemplares, entre os anos de 1962 e 1969. No site oficial da Gibson você poderá encontrar maiores informações sobre o instrumento (Clique Aqui). No final dos anos 70, a Concord Jazz propôs ao guitarrista uma série de gravações, que soaram tão surpreendentes como as que ele fazia na década de 50. Apesar do tempo, Tal Farlow se mostrou em plena forma, porém depois desse período de gravação o guitarrista desapareceu novamente. No decorrer da sua carreira, Tal Farlow teve seus álbuns lançados pelos seguintes selos, Blue Note, Prestige, Concord Jazz e pela Verve Records, responsável por lançar seus álbuns atualmente. Tal Farlow morreu em julho de 1998, aos 77 anos.

O álbum “The Return Of Tal Farlow” (1969) marca o retorno do guitarrista após um longo período. O guitarrista explora o jazz com muita propriedade, acompanhado pelo trio formado por John Scully (piano), Jack Six (baixo) e Alan Downson (bateria), Tal Farlow se sente livre para improvisar, que por sinal faz muito bem. Seus solos rápidos e precisos são sem dúvida um destaque a parte, como mostra a faixa de abertura “Straight, No Chaser”, onde o guitarrista e o trio se mostram afinadíssimos, criando um ambiente baseado no improviso. Há espaço para baladas jazzísticas e Standards como “Darn That Dream”, a maravilhosa “Summertime”, “My Romance” de Richard Rodgers, “I'll Remember April”, canção que ficou imortalizada na voz e nos instrumentos de grandes músicos do jazz e fechando o álbum à canção “Crazy, She Calls Me”. É impossível não se render ao talento dos guitarristas de jazz, eu que me interessei pelo jazz depois de ouvir John Pizzarelli, incluo agora na minha lista o guitarrista Tal Farlow. Boa Audição.

Track List

01. Straight, No Chaser
02. Darn That Dream
03. Summertime
04. Sometime Ago
05. I'll Remember April
06. My Romance
07. Crazy, She Calls Me

Tal Farlow (The Legendary Guitar of Tal Farlow DVD)


Site Oficial: Tal Farlow

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Boogaloo Joe Jones

1969 - Legends of Acid Jazz: Boogalo Joe Jones
Gênero: Acid Jazz / Blues



Estava fuçando nos meus arquivos e me deparei com esse álbum sensacional do guitarrista Boogaloo Joe Jones e lembrei que há muito tempo atrás eu tinha pensado em posta-lo aqui no blog, mas acabei esquecendo.

Ivan Joseph Jones, conhecido como Boogaloo Joe Jones, é um guitarrista de jazz e dos bons, diga-se de passagem. Segundo a sua discografia, depois de gravar dois singles, o guitarrista lançou dois álbuns no ano de 1968 pela Prestige Records, com o nome de Joe Jones, depois ganhou o apelido de “Boogaloo Joe”, lançando em 1969 um álbum com o mesmo título. O apelido foi criado para distingui-lo dos outros músicos que tinham o nome semelhante, como a cantora de R&B Joe Jones, o baterista de jazz Papa Jo Jones e Philly Joe Jones, entre outros. Após usar o apelido em alguns álbuns, ao lançar um álbum em 1972 decide mudar novamente e passa a usar Ivan “Boogaloo Joe” Jones. O guitarrista gravou vários álbuns de soul-jazz no período de 1966 a 1978. Além de liderar o seu próprio grupo para fins de gravação, Joe Jones trabalhou como sideman para outros músicos e teve participação em muitos álbuns.

Seu estilo é derivado do blues, mas Joe Jones foi além, buscou influência e trouxe o jazz para sua música. Suas principais influências são Tal Farlow e Billy Butler, ambos guitarristas de jazz-soul, e o pianista e organista de rhythm and blues Bill Doggett.

Legends of Acid Jazz: Boogaloo Joe Jones é uma compilação de dois trabalhos do guitarrista, os álbuns “Right On Brother” e “Boogaloo Joe” lançados pela Prestige Recordes em meados 1969 e inicio de 1970. Nos dois álbuns o guitarrista foi acompanhado por uma banda formada por músicos excelentes, como Rusty Bryant (saxofone), Sonny Phillips (piano/órgão), Charles Earland (órgão), Eddie Mathias (baixo elétrico), Jimmy Lewis (baixo) e Bernard Purdie (bateria).

A fusão da música de Joe Jones é contagiante, com sua guitarra, ele cria riffs simples e solos cadenciados, aliando isso com a sonoridade marcante do órgão, sax, baixo e bateria. No repertório todas as músicas são excelentes, cada uma com sua particularidade, umas com uma pegada mais funkeada, outras com um toque de blues, assim como o jazz e soul, que estão sempre presentes.

Quem curte o som dos guitarristas Grant Green e Pat Martino, ou até mesmo os primeiros álbuns do George Benson, certamente irá se surpreender com Boogaloo Joe Jones. Boa Audição.

Track List

01. Boogaloo Joe
02. Don't Deceive Me (Please Don't Go)
03. Boardwalk Blues
04. Dream On Little Dreamer
05. Atlantic City Soul
06. 6:30 Blues
07. Right On
08. Things Ain't What They Used To Be
09. Poppin'
10. Someday We'll Be Together
11. Brown Bag
12. Let It Be Me

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Harcsa Veronika

2007 - Speak Low
Gênero: Jazz



Harcsa Veronika nasceu em Budapeste, Hungria. Na sua infância e adolescência, frequentou várias escolas de música, onde aprendeu a tocar piano, saxofone e estudou canto e jazz clássico. Em 2008 ela concluiu o seu curso de jazz vocal na renomada faculdade Franz Liszt Academy of Music, em Budapeste. Mais antes, em 2005, Harcsa formou seu próprio quarteto de jazz, com os jovens músicos húngaros, Attlia Blaho (piano), Zoltán Oláh (contrabaixo) e Bálint Majtényi (bateria). O seu álbum de estreia “Speak Low” (2005) foi lançado primeiramente na Hungría e dois anos depois no Japão, pela gravadora independente de Tóquio, a Nature Bliss e não demorou muito para atingir o primeiro lugar em vendas no ranking de cantoras de jazz. Em 2006, a jovem começou a compor suas próprias canções, no ano seguinte lançou o seu segundo álbum "You Don´t Know It's You", com treze canções próprias e em 2008 lançou o seu álbum atual “Red Baggage”. Além da sua carreira como cantora de jazz, Harcsa também participa de outros projetos musicais, ela é vocalista da banda pop Erik Sumo, como convidada participou de projetos de música eletrônica e também atuou em duas peças de companhia de dança, como cantora. A jovem já se apresentou em inúmeros festivais na Hungria, Alemanha, Austria, Suiça, França, Eslováquia e Romenia. No festival de Fringe em Budapeste, no ano de 2007, Harcsa ganhou o prêmio de melhor vocalista/cantora.

Conheci o som da Harcsa por acaso, estava procurando o álbum de outro músico e me deparei com o “Speak Low”. E como eu não dispenso uma novidade, fiz questão de ouvir. Apesar de nunca ter ouvido falar dela, o som me agradou, um jazz clássico refinado, Harcsa tem uma voz suave e afinadíssima, que certamente irá agradar os ouvintes mais exigentes do jazz. O seu quarteto também merece destaque pela qualidade, alias neste álbum há a participação do Kardos Daniel na guitarra, que da um toque especial aos arranjos. Harcsa formou um repertório baseado em standards e não decepcionou, pelo contrário, canta com propriedade e desenvoltura, destaque para “Whisper Not”, canção cantada por Ella Fitzgerald, “The Look Of Love” um clássico do jazz, “Don't Let Me Be Misunderstood”, e os bonus “All Blues” composição de Miles Davis e “Nature Boy”, clássico que ficou marcado na voz de Nat King Cole.Boa Audição!

Track List

01. Whisper Not
02. The Look Of Love
03. I Put A Spell On You
04. Speak Low
05. Don’t Let Me Be Misunderstood
06. What’s New
07. After You’ve Gone
08. Parole Parole
09. Lullaby To An Anxious Child
10. All Blues (Bonus Track)
11. Nature Boy (Bonus Track)
12. La Belle Damme Sans Regrets (Bonus Track)

Harcsa Veronika Quartet "Spooky" (Chaplin Café June 2007)


Site Oficial: Harcsa Veronika

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"2666" (Roberto Bolaño)

Ficha Técnica

Escritor: Roberto Bolaño
Gênero: Literatura Estrangeira / Romance
Lançamento: 2010
Páginas: 852 páginas
Acabamento: Brochura
Editora: Companhia das Letras

2666, de Roberto Bolaño, é uma história de fôlego. De fato, são 852 páginas que de início parecem difíceis de serem vencidas, mas o resultado é uma leitura muito prazerosa.

A estrutura da história é dividida em 5 livros e gira direta ou indiretamente em torno da vida e obra de um famoso escritor alemão, Benno von Archimboldi, cuja característica, além de sua obra propriamente dita, é o estranho fato de pouca gente conhecê-lo pessoalmente. No primeiro livro, quatro críticos literários, fãs declarados do recluso Archimboldi, tentam a todo custo encontrar o escritor que está prestes a ser indicado para ganhar o Nobel de Literatura. Eles desistem de sua busca na cidade de Santa Tereza, ao norte do México, onde começa o segundo livro. Em Santa Tereza estão ocorrendo vários crimes contra mulheres cuja quantidade e violência, minuciosamente descritas por Bolaño, ultrapassam a média usual do local e começam a chamar a atenção da imprensa e do governo. Personagens diferentes são apresentados em cada livro e demora um pouco até estabelecermos a relação entre eles. Até que, no último livro, o personagem principal volta a ser o escritor alemão, onde conhecemos sua história desde o nascimento até os dias de hoje. No final, dá vontade de voltar ao primeiro livro e ler tudo novamente, pois a história se fecha como num círculo.

Este livro foi o último trabalho do escritor Roberto Bolaño, publicado um ano após sua morte, em 2003. Bolaño nasceu no Chile, em 1953 e é considerado um dos grandes nomes da literatura latino-americana contemporânea. É autor também de Amuleto (que traz uma pista de onde vem o título de 2666), Os detetives selvagens, Estrela distante, Noturno do Chile, A pista de gelo e Putas assassinas, todos publicados no Brasil pela Companhia das Letras.

Site oficial: 2666
Leia um trecho em PDF clicando aqui.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Milton Nascimento

1993 - Angelus
Gênero: MPB / Jazz



Milton Nascimento é sem dúvida um dos músicos mais influentes do cenário nacional e por que não dizer do mundo. Seu reconhecimento ultrapassa fronteiras, é respeitado no mundo inteiro por seu talento como cantor e compositor. Eu conheço muito pouco da obra do Milton, ouvi alguns álbuns, o suficiente para tentar entender a genialidade desse grande músico brasileiro. Dos álbuns que eu conhecia até então, “Pietá” (2003) era o meu favorito, arranjos maravilhosos e letras que ficaram marcadas logo na primeira vez que eu ouvi. Durante esta semana estava conversando com o Kiko Brandão, dono do blog O Que Não Toca na Rádio, sobre o novo álbum do Milton. Enfim, papo vai, papo vem e ele me perguntou se eu conhecia o álbum Angelus. Eu disse que não, para ser sincero nunca tinha ouvido falar. Então ele me disse para ouvir o álbum. Como não dispenso uma dica, ouvi o álbum no mesmo dia e fiquei maravilhado, literalmente sem palavras.

O álbum “Angelus” (1993) é uma verdadeira obra prima. Eu que sempre achei que é difícil entender as letras do Milton logo na primeira audição, de fato o primeiro contato com a sua obra causa um choque, por que não sabemos se prestamos atenção nas letras ou nos arranjos, sempre maravilhosos. Em todos os álbuns do Milton que eu ouvi a sensação foi a mesma, mas em “Angelus” foi diferente. A música é penetrante, as letras são compreensíveis e os arranjos, bom esses mais uma vez dispensam comentários. Como se não bastasse tudo isso, Milton ainda arrumou um jeito de deixar o álbum ainda mais especial e contagiante. O compositor reuniu um time de músicos de altíssimo nível, nas participações especiais está o guitarrista Pat Matheny, o vocalista da banda inglesa YES Jon Anderson, James Taylor, o ex-vocalista do Genesis Peter Gabriel, o saxofonista Wayne Shorter, o pianista Herbie Hancock, o baixista Ron Carter e o baterista Jack DeJohnette, há também vários músicos brasileiros, é uma lista extensa, que estará disponível no final da postagem.

No repertório 15 canções, há preciosidades como a faixa de abertura, “Seis Horas Da Tarde”, um instrumental maravilhoso, que abre o álbum em grande estilo. Em “Estrelada”, Milton canta ao lado do vocalista Jon Anderson, que arrisca até no português. “De Um Modo Geral” tem a participação do saxofonista Wayne Shorter, tem uma pegada voltada para o rock, com uma pitada de jazz. “Coisas de Minas” também é muito interessante, uma mistura de ritmos, começa com uma viola caipira, uma sanfona, tem até jazz, uma criação genial. A canção “Hello Goodbye” dos Beatles, ganhou uma nova versão nas mãos e na voz de Milton. “Only A Dream In Rio” é uma das mais bonitas canções do álbum, Milton cantando ao lado de James Taylor, e mesclando a letra em português e inglês. Com Peter Gabriel, Milton conta a excelente “Qualquer Coisa a Haver Com o Paraiso”. “Vera Cruz” é sem duvida a canção mais jazzística do álbum, com participações de Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter e Jack DeJohnette, na sequencia “Novena”, tocada com a mesma formação, em “Amor Amigo” a participação é do guitarrista Pat Metheny e o pianista Herbie Hancock, uma canção belíssima, e fecha o álbum a canção “Sofro Calado”, apenas voz e piano.

“Angelus” é um álbum mais do que especial, como disse anteriormente, uma obra prima, que merece ser apreciada da melhor forma possível. Se você ainda não conhece a obra do Milton Nascimento, “Angelus” é certamente é o melhor ponto de partida. Boa Audição

Ouça a música "Vera Cruz" (Milton Nascimento)


Track List

01. Seis Horas Da Tarde (Participação: Wayne Shorter)
02. Estrelada (Participação: Jon Anderson)
03. De Um Modo Geral... (Participação: Wayne Shorter)
04. Angelus (Nascimento) (Participação: Leonardo Bretas)
05. Coisas De Minas
06. Hello Goodbye
07. Sofro Calado
08. Clube Da Esquina No.2
09. Meu Veneno
10. Only A Dream In Rio (Participação: James Taylor)
11. Qualquer Coisa A Haver Com o Paraiso (Participação: Peter Gabriel
12. Vera Cruz (Participações: Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter, Jack DeJohnette)
13. Novena (Participações: Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter, Jack DeJohnette)
14. Amor Amigo (Participações: Pat Metheny, Herbie Hancock)
15. Sofro Calado

Milton Nascimento – vocais, sanfona, violão e piano.
Wayne Shorter - sax
Gil Goldstein – orquestra e regência
Jon Anderson – vocais
Túlio Mourão – teclado, piano
Hugo Fattoruso – acordeon, piano
João Baptista – baixo fretless, baixo
Wilson Lopes - guitarra e viola caipira
Robertinho Silva – percusão, bateria e concepção rítmica
Ronaldo Silva – percusão, bateria, efeitos, tamborim
Vanderlei Silva – percusão, efeitos, tamborim
Leonardo Bretas – vocais
Naná Vasconcelos – percusão e concepção rítmica
James Taylor – vocais, violão
Jeff Bova – teclados
Tony Cedras – acordeon
Anthony Jackson – guitarra "contrabass"
Chris Parker – bumbo
Peter Gabriel – vocais
Flávio Venturini – violão
Herbie Hancock – piano
Pat Metheny – guitarra, violão
Ron Carter – baixo
Jack Dejohnette – bateria

Site Oficial: Milton Nascimento

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Raul Boeira

2009 - Volume Um
Gênero: MPB



A qualidade da música, dos músicos e dos compositores brasileiros é inegável. Muitas vezes esquecida em seu próprio país, nossa música é exportada pelo mundo e conquista cada vez mais um número maior de ouvintes. E muitas vezes os nossos compositores e músicos acabam passando despercebidos, e consequentemente não recebendo o devido valor e reconhecimento. Na semana passada, tive a grata surpresa ao receber um e-mail do compositor gaúcho Raul Boeira. O melhor ainda estava por vir, Raul fez questão de enviar as músicas, a qual aceitei sem pensar duas vezes. No mesmo dia, ouvi e fiquei maravilhado. Há tempos não ouvia um álbum de MPB com tamanha qualidade. Letras lindas, cativantes e com muito conteúdo, arranjos belíssimos, uma sonoridade que impressiona em vários aspectos, melodias suaves, a diversidade e a combinação perfeita dos ritmos, instrumentistas do mais alto nível e Raul, que além de um excelente compositor e violonista, solta a voz e se mostra um cantor talentoso. Mas antes de falar do álbum “Volume Um”, segue uma breve história sobre o compositor Raul Boeira.

O compositor e violonista gaúcho Raul Boeira, nasceu em 1956, na cidade de Porto Alegre/RS. Filho de um acordeonista amador, cresceu ouvindo valsas, choros e rancheira, músicas que seu pai tocava. O seu envolvimento com a música era ainda maior, a começar pelo rádio, que estava sempre ligado na sua casa, ouvia muito a Rádio Guaíba, a qual tocava música orquestrada e bossa nova, depois as rádios foram invadidas pela Jovem Guarda, a qual Raul também não perdeu tempo em conhecer. Anos depois a grande novidade era a TV e junto com ela os festivais e programas de música. No ano de 1972 a rádio Continental passou a divulgar o som da Motown, depois Raul descobriu um programa de jazz e blues, na radio Jornal do Brasil. Com apenas 15 anos, Raul já havia feito grandes descobertas e ouvido muita coisa. Em 1973 o violão foi a sua grande descoberta, segundo o próprio Raul, ele teve a ajuda de dois hippeis que trataram de ensinar-lhe os primeiros acordes e também em apresentar os primeiros LPs de rock, como Hendrix, Deep Purple, Jethro, entre outros. Em 1974, ele e sua família mudaram-se para a cidade de Passo Fundo/RS, lá arrumou emprego e comprou o tão sonhado toca-discos. Como ele já “arranhava” o violão, não demorou muito para descobrir as revistas de violão Vigu, que traziam harmonias, especialmente de música brasileira. O próximo passo foi adquirir discos de MPB, entre os primeiros comprados estão Milton Nascimento (Milagre dos Peixes), Elis, Ivan Lins, Chico, Caetano e Gil. No ano de 1979, Raul conheceu um guitarrista catarinense, o qual lhe falou de outros guitarristas/violonistas, mas do meio jazzístico, como Wes Montgomery, Joe Pass, John McLaughlin, a partir daí Raul começou a adquirir os discos de jazz. Nessa época, Raul passou a conhecer melhor os músicos locais, eles tocavam em rodas de violas que aconteciam na cidade e atualmente muitos deles são músicos respeitados, como Alegre Corrêa, Guinha Ramires e Dudu Trentin. Como eles viviam de música, muitos se mudaram para outras cidades em busca de melhores oportunidades. Raul decidiu ficar em Passo Fundo, foi aprovado em um concurso público e passou a compor suas músicas em casa. Participou de alguns festivais, tocou em alguns bares, experiência que segundo ele foi desastrosa. Mais foi em 1993, que Raul tomou a decisão de ser para sempre um músico amador.

Apesar da decisão, Raul nunca abandonou a música, muito pelo contrário, continuou trabalhando em suas composições e chegou a incrível marca de 130 canções, algumas foram regravadas por músicos independentes da cena local passo-fundense, de Porto Alegre, do Uruguai e até de Viena, na Europa.

Mas o grande sonho de Raul começou a tomar forma em 2007. Entrou em contato com seu amigo Dudu Trentin, que se tornou arranjador de trilhas da Rede Globo e ficou decidido que aquela seria a hora de realizar definitivamente o seu sonho: Gravar um CD.

O álbum “Volume Um” (2009) foi produzido no Rio de Janeiro, no estúdio Nas Nuvens – construído por Liminha e Gilberto Gil no final dos anos setenta -, com arranjos e produção musical do pianista Dudu Trentin e Vitor Farias como responsável pela gravação, mixagem e masterização, ele que é considerado um dos melhores do Brasil e já gravou álbuns de grandes nomes da música brasileira, como Elis Regina, Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Paralamas, entre outros.

O álbum impressiona em todos os aspectos, principalmente pelo time de instrumentistas que participaram das gravações, os guitarristas Ricardo Silveira, Lula Galvão, Celso Fonseca, Torcuato Mariano, Fernando Caneca, João Gaspar e Julio Herrlein, os baixistas André Vasconcellos e André Rodrigues, o baterista Alexandre Fonseca, os percussionistas Sidinho Moreira e Firmino, o flautista Marcelo Martins, o violinista Glauco Fernandes e o acordeonista Léo Brandão. A cantora carioca Barbara Mendes cantou em uma faixa. Atuaram como backing vocals Juliano Cortuah, Nina Pancevski e Lu Duque.

No repertório do álbum, 12 canções de autoria própria, nas quais as canções “Negro Coração” e “Clariô” escritas em parceria com Alegre Corrêa e “Com o Azul nos Olhos” em parceria com o porto-alegrense Mário Falcão. Bom, eu gostaria de citar todas as músicas, pois o Raul me enviou a história por trás de cada uma, tentarei ser breve (apesar de achar impossível, diante de tudo isso). A faixa de abertura “O Poder da Benzedura”, começa com um arranjo belíssimo de violinos, tocado por Glauco Fernandes e depois o toque sutil dos violões. A música tem uma levada rítmica do candombe uruguaio. A letra é uma homenagem ao seu Nabuco, conhecido benzedor da cidade Passo Fundo. A canção “Doutor Cipó” é um ijexá bem ritmado, violões tocados João Gaspar e percussão de Sidinho Moreira. A letra também é uma homenagem, o nome é em referência ao seu Graciano, um velhinho que há muitos anos vendia ervas e chás no centro da cidade, e mostra a fé do brasileiro na flora medicinal como alternativa à medicina inalcansável ao homem comum. “Na Beira do Rio” é uma das músicas mais lindas do álbum, letra maravilhosa, nela Raul se põe no lugar do matuto que espera a morena voltar para o seu ranchinho. Apenas voz, violão e acordeom, isso é o bastante. Os erros de português na música são propositais. “Minha Reza” é uma canção com uma letra bem interessante, é uma prece escrita em 1986 para São Jobim. Raul é acompanhado apenas pelo guitarrista porto-alegrense Julio Herrlein. “Com o Azul nos Olhos” é um poema escrito por Raul em 2002, enquanto deixava a cidade de Uruguaiana. Os versos foram entregues ao compositor Mario Falcão, o qual musicou em forma de milonga. Raul decidiu que não queria gravá-la nos moldes gaúchos, então a solução encontrada foi utilizar uma voz feminina, sem sotaque gaúcho e acompanhada não por violões, como de hábito, mas de um piano moderno. O arranjo escrito por Dudu e a cantora convidada foi a carioca Bárbara Mendes. O resultado não poderia ser outro, uma canção maravilhosa. “Pro Pandeiro Não Cair” é um samba abolerado, onde Raul critica a necessidade que o brasileiro tem de cultuar heróis do esporte e o modo como os meios de comunicação o utilizam como forma de induzir o povo à alienação. O arranjo de flautas foi escrito por Dudu e executado por Marcelo Martins. “Laranjeira” é um xote, não gaúcho, mas nordestino, com direito à sanfona, triângulo e zabumba. A faixa “Clariô” fecha o álbum com chave de ouro, a letra foi musicada por Alegre Corrêa e a letra fala sobre a fé, a resistência, a teimosia e a luta pela sobrevivência.

É impossível traduzir em palavras o álbum “Volume Um” do Raul Boeira, e o motivo disso é simples: Não encontramos palavras à altura dessa obra da música brasileira. Quero parabenizar o Raul pelo trabalho magnífico, por contribuir de forma tão grandiosa com a música brasileira e nos brindar com canções de altíssimo nível e uma sonoridade riquíssima, também quero elogiar os instrumentistas que fizeram parte das gravações e que ajudarama concretizar o sonho do compositor Raul Boeira. "Volume Um" é sem sombra de dúvida um dos melhores álbuns de MPB da atualidade. Boa Audição a todos.

Ouça a música "O Poder da Benzedura" (Raul Boeira)


Track List

01. O Poder da Benzedura (Raul Boeira)
02. Negro Coração (Alegre Corrêa/Raul Boeira)
03. Oferenda (Raul Boeira)
04. Doutor Cipó (Raul Boeira)
05. Na Beira do Rio (Raul Boeira)
06. Pro Pandeiro não Cair (Raul Boeira)
07. Minha Reza (Raul Boeira)
08. Castelhana (Raul Boeira)
09. Com o Azul nos Olhos (Mário Falcão/Raul Boeira)
10. Tataravô (Raul Boeira)
11. Laranjeira (Raul Boeira)
12. Clariô (Alegra Corrêa/Raul Boeira)

Myspace Oficial: Raul Boeira

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Avishai Cohen

2010 - Introducing Triveni
Gênero: Jazz / Post-bop



Introducing Triveni (2010) é o mais recente trabalho do trompetista israelense Avishai Cohen. Em um trio sem pianista, Cohen é acompanhado pelo baixista Omer Avital e o baterista Nasheet Waits. A palavra que melhor define esse álbum é: Melódico. Com seu trompete, Cohen cria um ambiente impressionante, com frases e solos marcantes, criados sob uma base sólida e de ritmo cadenciado. O titulo do álbum é uma referência aos três rios sagrados na tradição hindu, os rios Gages e Yamuna e o mítico rio já existindo Saraswati, que também é o nome da deusa hindu da sabedoria, das artes e da música. Curiosidades a parte, Cohen apresenta um repertório com oito canções, sendo quatro composições próprias. Entre os destaques estão as suas composições próprias, a faixa de abertura “One Man's Idea” e a funkeada “October 25th” e também as regravações, como a versão da canção “Art Deco” de Don Cherry, “Mood Indigo” de Duke Ellington, “Wise One” do saxofonista John Coltrane, e “You'd Be so Nice to Come Home To” do músico e compositor Cole Porter.

Avishai Cohen é um dos grandes nomes do jazz atualmente, para quem não sabe, ele é um dos músicos do quarteto Third World Love, do qual faz parte o baixista Omer Avital. A princípio o álbum Introducing Triveni (2010) pode parecer estranho, mais basta uma segunda audição para perceber a genialidade de Avishai Cohen, pela sonoridade e pela ousadia em formar um trio sem pianista. Boa Audição.

Ouça a música: "One Man's Idea" (Avishai Cohen)


Track List

01. One Man's Idea
02. Ferrara Napoly
03. Art Deco
04. Mood Indigo
05. Wise One
06. Amenu
07. You'd Be so Nice to Come Home To
08. October 25th

Site Oficial: Avishai Cohen

domingo, 16 de janeiro de 2011

Benny Goodman

1938 - Carnegie Hall - The Complete Concert
Gênero: Jazz / Swing




“Quando me propuseram fazer esse concerto no Carnegie Hall”, recordou Benny Goodman 40 anos depois, “eu fiquei em dúvida, sem saber exatamente o que era esperado de nós.”

Em 1938, não seria a primeira vez que uma banda de swing tocaria para uma audiência sentada – melhor dizendo, não dançante - mas isso acontecia apenas nos intervalos de peças teatrais ou seções de cinema. “Naqueles dias”, continuou Goodman, “você tinha também um ato de trapézio ou um comediante ou um dançarino. Era como um show de variedades (vaudeville). Eu não conseguia imaginar uma pessoa indo ao teatro para ficar ouvindo apenas uma banda tocar por duas horas e meia.”

Goodman resolveu então fazer o que sabia fazer: tocar sua música e suingar. O programa incluía uma resenha sobre a história do jazz e outros temas que estavam em voga. As músicas seriam interpretadas pela orquestra além de sub-grupos de seus músicos, sempre com Goodman na clarineta. Haveria até uma jam session, para a qual vieram músicos da orquestra de Count Basie, como Lester Young, Buck Clayton, Walter Page, Fred Green e o próprio Basie. Da de Duke Ellington vieram Johnny Hodges, Cootie Williams e Harry Carney.

Finalmente, em 16 de janeiro de 1938, às 20:00 hs, as portas do Carnegie Hall se abriram e suas cadeiras foram inteiramente tomadas. Goodman foi obrigado a comprar ingressos de cambistas para que sua família pudesse assistir ao espetáculo – um mal antigo pelo visto.

O espetáculo começou com Don’t be that way, em um ritmo um pouco lento. De repente, Gene Krupa irrompeu com um break na bateria (mais ou menos aos 2:30 minutos do segundo video abaixo). A plateia delirou, gritou, aplaudiu. O cabelo de Krupa caiu sobre seus olhos e a banda entrou no clima. Sensation Rag abriu a seção de História do Jazz, do repertório da Original Dixieland Jazz Band, seguido por I’m comin’ Virginia. Para a jam session a música escolhida foi Honeysuckle Rose. Depois veio a apresentação dos grupos menores com Body and Soul, Avalon e The Man I Love. A primeira parte encerrou-se com a explosiva I got rhythm. Na continuação foram tocadas músicas como Blue Skies, China Boy, Stompin’ at the Savoy e suingadíssima Sing, Sing, Sing.

Curiosamente, a gravação desse show histórico foi feita por acaso por um produtor de nome Albert Marx, que providenciou o registro sem que muita gente soubesse, utilizando-se de um equipamento de gravação que a CBS mantinha no teatro. O show não foi retransmitido pelas emissoras de rádio e pouca gente se interessou em transformar em disco, o que é engraçado considerando-se a atual perspectiva histórica. O primeiro álbum foi editado apenas em 1950.

Track List

Disco 1

01. Don’t be that way
02. Sometimes I’m happy
03. One o’clock jump
04. Sensation rag
05. I’m comin’ Virginia
06. When my baby smiles at me
07. Shine
08. Blue reverie
09. Life goes toa party
10. Honeysuckle rose
11. Body and soul
12. Avalon
13. The man I love
14. I got rhythm



Disco 2

01. Blue skies
02. Loch Lomond
03. Blue Room
04. Swingtime in the Rockies
05. Bei mir bist du schön
06. China boy
07. Stompin’ at the Savoy
08. Dizzy spells
09. Sing, Sing, Sing
10. If dreams come true
11. Big John’s special








Site Oficial: Benny Goodman

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mauricio Pedrosa Blues Trio

2010 - Jazz Blues Fusion
Gênero: Blues / Jazz



Mauricio Pedrosa é pianista, compositor, arranjador e produtor, ao longo dos anos já se apresentou com Rita Lee, Pepeu Gomes, Walter Franco, Zona Blues, tocando em várias cidades do Brasil e também no exterior, participando inclusive do Festival de Jazz de Montreal. Formado pelos músicos Mauricio Pedrosa (teclado/órgão), Marco Guto (contrabaixo) e Victor Busquets (bateria), o trio lançou recentemente o álbum “Jazz Blues Fusion” (2010), com um repertório baseado nos clássicos do blues e do jazz, o trio apresenta nove canções, sendo quatro composições próprias, “Anthonys Blues”, “Give Me Your Hand”, “The Blues Is My Best Friend” e “Boogie Woogie Blues”.

O álbum “Jazz Blues Fusion”, certamente irá agradar os amantes mais exigentes do blues e do jazz. O trio se destaca pela sonoridade marcante e arranjos refinados, sem deixar de lado o som inconfundível do órgão Hammond. Boa Audição a todos.

Quero agradecer ao Mauricio por enviar o material, para que eu pudesse divulgar o trabalho do trio aqui no Blog Jazz e Rock. E aproveito para desejar toda sorte e sucesso ao trio.

Ouça a música "Organic!" (Mauricio Pedrosa Blues Trio)


Track List

01. Blue Miles
02. Groovin'B
03. Blues Alive
04. Anthony's Blues
05. Organic!
06. Give Me Your Hand
07. The Blues Is My Best Friend
08. Jazz'It'Up
09. Boogie Woogie Blues


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tom Kennedy

1997 - Basses Loaded
Gênero: Jazz Fusion



É impressionante como a internet facilita nossa vida, ainda mais quando precisamos encontrar algo relacionado à música, e isso é possível, mesmo que você não tenha poucas informações em mãos. Estou dizendo isso, por que ontem aconteceu comigo. Eu curto muito o som do baterista Dave Weckl, mas como sou fissurado por contrabaixo, no decorrer da música acabo prestando mais atenção no trabalho do contrabaixista, e enquanto eu ouvia um álbum do Dave, comecei a prestar atenção no contrabaixista, nas faixas “The Chicken” e “Rhythm-a-ning (Bass-drum duet)”, o cara simplesmente arrebentou, solou maravilhosamente bem, com muito groove e improviso, enfim, um baixista muito experiente. Então munido dessas poucas informações, descobri que o baixista que tocou ao lado do Dave Weckl, era Tom Kennedy.

Tom Kennedy começou a tocar contrabaixo acústico aos 9 anos, anos mais tarde ele e seu irmão – o pianista Ray Kennedy, conhecido por tocar no trio do John Pizzarelli – começaram a tocar juntos nos arredores de St.Louis. Ainda na adolescência, Tom tocou ao lado de músicos veteranos do cenário jazzístico, como Dizzy Gillespie, James Moody, Peter Erskine, Barney Kessel, David Sabor, Freedi Hubbard e Stan Kenton. Nessa época o interesse de Tom era basicamente o mainstream jazz, um gênero do jazz com origem na década de 50, até que ele decidiu aprender a tocar o contrabaixo elétrico, aos 17 anos de idade. Tom mudou-se para Nova Iorque em 1984 e com o tempo acabou de envolvendo em vários projetos musicais, tocando contrabaixo acústico e elétrico. Gravou um álbum com o guitarrista Bill Crnnors e também excursionou com o grupo de jazz fusion Steps Ahead, com isso Tom ganhou reconhecimento imediato e junto com ele surge as oportunidades, e o contrabaixista divulgou em seu site pessoal uma lista extensa de músicos com que ele teve a honra de tocar ou gravar, entre eles Al DiMeola, Herb Ellis, Barney Kessel, Steve Kahn, Joh Pizzarelli, Dave Weckl, Harry Allen, Bill Evans, Ken Peplowski, Ray Kennedy, Chick Corea, Charlie Byrd e muito mais. Mas foi na banda do baterista Dave Weckl, que ele gravou o maior numero de álbuns, o álbum de estréia “Masterplan” (1990) “Ryhthm of the Soul” (1998), “Synergy” (1999), “Transition” (2000), “Perpetual Motion” (2002), “Live (and very plugged in)” (2003) e o ultimo “Multiplicity” (2005).

O contrabaixista também apostou na sua carreira solo lançando em 1997 o álbum “Basses Loaded”. Ouvi o álbum e achei muito interessante, um jazz fusion bem tocado, com arranjos belíssimos, me chamou a atenção o fato do Tom não explorar seu lado virtuoso, com solos rápidos, por exemplo, muito pelo contrário, ele toca de maneira bem cadenciada, claro que uma hora ou hora acaba usando fazendo uso da técnica com grooves perfeitos. Tom também está acompanhado por músicos excelentes como Dave Weckl (bateria), Ray Kennedy (piano/teclado), Sammy Figueroa (percussão), Keith Fiddmont (Sax tenor e soprano) e a cantora brasileira Tania Maria (vocal/piano nas faixas 4,6). No repertório destaque para as músicas “Song for Sara”, a versão da clássica “Caravan”, “Crystal”, “Made in New York” e “All Of You”. No final da postagem vou deixar o video da música "The Chicken", do baterista Dave Wickl. Assistam e repare na performance do baixista Tom Kennedy. Boa Audição !

Ouça a música "Caravan" (Tom Kennedy)



Track List

01. Song For Sara
02. Caravan
03. Her Eyes
04. Alfred's Book #1
05. Crystal
06. Made In New York
07. I'll See You
08. All Of You
09. Oleo

Dave Wiclk Band "The Chicken"


Site Oficial: Tom Kennedy

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Art Tatum

1955 – The Tatum Group Masterpieces – Volume Three
Gênero: Jazz



Da série de gravações feitas pelo pianista Art Tatum nos anos 50, encontra-se a coleção The Tatum Group Masterpieces. O volume 3, aqui apresentado, reúne o vibrafonista Lionel Hampton, que se não foi o inventor do vibrafone no jazz, sem dúvida cabe a ele o mérito de tê-lo popularizado, e Buddy Rich, um dos bateristas mais técnicos do jazz.

Tatum é um pianista criativo e vigoroso, tendo influenciado músicos como Bud Powell, Oscar Peterson, Charlie Parker, John Coltrane e outros. Pertenceu a uma geração de pianistas, como Earl Hines e Fats Waller que com seus estilos afastaram o jazz da forma de tocar do ragtime.

Track Listt

01. What is This Thing Called Love
02. I’ll Never Be The Same
03. Makin’ Whoopee
04. Hallelujah
05. Perdido
06. More Than You Know
07. How High The Moon
08. Hallelujah (alternate take)



Nota: o cara que montou o vídeo acima colocou uma foto do baterista Gene Krupa ao invés de Buddy Rich, mas tudo bem, o que vale é que é uma das músicas do álbum que estamos comentando.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Stryper

2011 - The Covering
Gênero: Hard Rock / Heavy Metal



Stryper é uma das bandas de hard rock mais importantes dos anos 80, pioneira no metal cristão. Com uma qualidade incontestável, a banda lançou álbuns que são considerados verdadeiros clássicos como “Soldiers Under Command” (1985), “To Hell With The Devil” (1986) e “Against The Law” (1990). Formada em 1983, a banda esteve no auge nos anos 80 e começo dos 90, mas em 1992 o vocalista Michael Sweet decide sair da banda para seguir carreira solo, sem muitas alternativas, o Stryper chega ao fim do mesmo ano, só retornando a cena em 2003.

O Stryper sempre foi marcado por seu diferencial, com músicas de excelente qualidade, músicos habilidosos, letras marcantes e refrões grudentos, além disso o visual era outra marca da banda, por ser caracterizados como glam rock, as roupas eram sempre coloridas, mais não fugia das listras em amarelo e preto. O Stryper foi uma das poucas bandas cristãs que despontaram no cenário secular, apesar de todas as polêmicas e questionamentos, os membros nunca negaram a sua fé em Jesus Cristo. Apesar de muito metaleiro torcer o nariz por causa disso, principalmente pela mensagem nas letras, eles acabam deixando de lado o principal, a qualidade musical da banda.

No ano passado o Stryper anunciou o lançamento do novo álbum, isso gerou uma expectativa imensa por parte dos fãs, além de muita discórdia (por questões religiosas). O fato é que a banda estava prestes a lançar um álbum de covers. A idéia da banda era fazer uma seleção de clássicos do hard rock e heavy metal que influenciaram eles em todos esses anos de carreira e que de certa forma ajudaram a moldar o som da banda. A banda selecionou um repertório para ninguém botar defeito, com músicas do Judas Priest, Black Sabbath, Iron Maiden, Scorpions, Deep Purple, KISS, Kansas, Led Zeppelin, entre outros. Não é preciso dizer que isso causou uma agitação imensa entre os fãs, todo mundo queria ouvir. Com o tempo o próprio Michael Sweet soltou alguns trechos e depois duas músicas completas na internet.

O lançamento do “The Covering” foi adiado algumas vezes, depois foi confirmado para o primeiro semestre de 2011, mas no fim do ano passado o álbum vazou na internet.

“The Covering” é um álbum digno de aplauso, um trabalho primoroso do Stryper, era o som que os fãs esperavam, com peso, solos e claro, muito hard/heavy. E de lá pra cá surgiram muitos comentários sobre o álbum, alguns renderam elogios, outros (os radicais) criticaram as músicas e alguns religiosos abominaram a atitude do Stryper. E um dos motivos da discussão foi baseado na sonoridade das músicas, mas creio que por se tratar de covers, se espera que a música não seja igual à original, e vendo por esse lado, essa foi à grande jogada da banda, eles regravaram e souberam colocar – não é bem a palavra certa – as características do Stryper.

Michael Sweet (vocal/guitarra), Oz Fox (guitarra), Robert Sweet (bateria), Tracy Ferrie e Timothy Gaines (baixo) ousaram no repertório do álbum, clássicos consagrados regravados com uma visão diferente. Destaque para “Heaven And Hell” (Black Sabbath), “Carry On Wayward Son” (Kansas), “Shout It Out Loud” (KISS), “The Trooper” (Iron Maiden), “Breaking The Law” (Judas Priest) e a faixa inédita “God”.

The Covering
vai causar muita polêmica ainda, tanto daqueles metaleiros radicais que não aceitam uma banda cristã gravando musica secular (embora eu acho uma bobagem essa divisão) e também por parte dos religiosos que acham isso uma abominação. Então por mais que você – por algum motivo – não goste do álbum, procure conhecer e ouvir os álbuns considerados clássicos da banda, antes de criticar sem base alguma. No mais, boa audição a todos.

Ouça a música "Heaven And Hell"


Track List

01. Set Me Free (Sweet )
02. Blackout (Scorpions)
03. Heaven And Hell (Black Sabbath)
04. Lights Out (U.F.O.)
05. Carry On Wayward Son (Kansas)
06. Highway Star (Deep Purple)
07. Shout It Out Loud (KISS)
08. Over The Mountain (Ozzy Osbourne)
09. The Trooper (Iron Maiden)
10. Breaking The Law (Judas Priest)
11. On Fire (Van Halen)
12. Immigrant Song (Led Zeppelin)
13. God

Site Oficial: Stryper

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"O Jogo do Anjo" (Carlos Ruiz Zafón)

Ficha Técnica

Escritor: Carlos Ruiz Zafón
Gênero: Literatura Estrangeira / Romance
Lançamento: 2008
Páginas: 416 páginas
Acabamento: Brochura
Editora: Objetiva / Selo: Suma das Letras

A primeira postagem do Blog Jazz e Rock em 2011 será sobre um livro muito especial. Depois de ler “A Sombra do Vento” do escritor catalão Carlos Ruiz Zafón, não pensei duas vezes antes de comprar o romance “O Jogo do Anjo”.

O escritor Carlos Ruiz Zafón vem destacando no cenário literário, “A Sombra do Vento” foi um sucesso, ultrapassou a marca de 10 milhões de exemplares vendidos no mundo, desde o seu lançamento em 2001. Um livro excelente em todos os sentidos, ambientado no período da primeira metade dó século XX, em Barcelona, o escritor nos leva por caminhos inimagináveis, entre personagens cativantes e misteriosos, a história é narrada com detalhes e faz com que o leitor se sinta parte dela. A obra de Zafón toca no fundo da alma e mexe com o nosso sentimento diversas vezes.

Lançado em 2008, “O Jogo do Anjo” já é um sucesso literário. Apesar de não ser uma continuação do antecessor, Zafón brinda seus leitores com cenários e personagens bem familiares. A começar pela cidade de Barcelona. O escritor volta à cidade, mas em um período anterior daquele vivido em “A Sombra do Vento”, mais precisamente década de 20. Em relação aos lugares, o leitor terá novamente o prazer de passear pela pequena e acolhedora livraria Sempere & Filhos e o misterioso e mágico Cemitério dos Livros Esquecidos. É nesse ambiente que Zafón constrói com maestria a história do seu novo romance. Segundo o próprio Zafón, O Jogo do Anjo, é uma história de mistério e romance, e assim como A Sombra do Vento, explora e combina numerosos gêneros, técnicas e registros. Além disso, é novamente uma história de livros, de quem os faz, de quem os lê e de quem vive com eles, através deles e até contra eles.

“Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço.”

Assim começa “O Jogo do Anjo”. O protagonista e narrador é David Martin, um jovem escritor que vive em Barcelona, na década de 20. David começou a sentir a dureza da vida ainda criança, com o assassinato do seu pai. O seu talento para a escrita logo se manifestou, mas as oportunidades nunca tiveram à altura do seu potencial. Jovem, desiludido profissionalmente e no amor, depois de ver Cristina – o seu grande amor – ir parar nos braços de seu amigo e protetor, Pedro Vidal, herdeiro do jornal e o homem a quem era destinado o tiro que matou o pai de David. Aos 28 anos, David Martin estava habituado a vender barato o seu talento, em troca escrevia histórias em um jornal, sempre escondido atrás de um pseudônimo. Vivendo sozinho em um casarão em ruínas, o jovem escritor se vê com um problema: está gravemente doente e com poucos meses pela frente. É quando surge em sua vida Andreas Corelli, um estrangeiro que se diz editor de livros. Sua origem é um mistério, mas sua fala é mansa e sedutora. Corelli procura David, por acreditar que ele é o único escritor que pode realizar o seu pedido. O editor oferece a David muito dinheiro e promete devolver e restaurar a sua saúde. Em troca Corelli não pede pouco: sua encomenda é um livro com potencial de influenciar milhões de vidas. O pedido coloca David em um dilema, que o leva a questionar as reais intenções do editor misterioso e a pensar o peso dessa decisão que poderá mudar sua vida para sempre.

O Jogo do Anjo é uma história de suspense, amor e fé. Zafón explora com maestria a cidade de Barcelona, mas de um ângulo diferente. No livro, David conhece e freqüenta a livraria Sempere & Filhos e também é levado ao Cemitério dos Livros Esquecidos.

Carlos Ruiz Zafón diz que “O Jogo do Anjo” tem uma visão diferente do “A Sombra do Vento”, um dos motivos é que no anterior, a história era contada a partir da visão de um menino que estava amadurecendo, descobrindo a vida e seus mistérios e assim ganhou um ar mais amável, agora o escritor vai além e diz que seu livro atual é mais completo. Ainda segundo o escritor, ele pretende criar uma tetralogia e que as histórias de todos os volumes se situarão em algum período entre a Revolução Industrial e o final da Segunda Guerra. O Jogo do Anjo por exemplo faz referencia a acontecimentos que vão de 1904 a 1945. O escritor diz que todos os livros poderão ser lidos de forma independente.

Como leitor, já me considero um fã da obra do Zafón. Os dois livros são excelentes, mas ao ler percebi que “O Jogo do Anjo” é mais complexo, ele aguça a nossa imaginação e assim como David fica preso em um dilema, nós também ficamos a cada descoberta. É sem dúvida uma obra completa. Boa Leitura.

Leia o primeiro capítulo do "O Jogo do Anjo": Clique Aqui

Site Oficial: Carlos Ruiz Zafón