quinta-feira, 6 de junho de 2013

Review: Ed Motta - AOR (2013)


Agradeço ao Marcelo Donati, que gentilmente cedeu a sua resenha e autorizou que eu postasse aqui no Jazz & Rock. Essa é mais um super lançamento do ano. 

Por Marcelo Donati ( Blog Marcelo Donati )

Um álbum pra ser ouvido no toca-fitas, passeando de carro pela ensolarada U.S. Route 101 na Califórnia, tomando um keep cooler, e usando uma camisa florida como a do Magnum P.I.

Assim é o clima que Ed Motta pretende criar no ouvinte que apreciar seu mais recente disco, AOR (Dwitza Music / LAB 344). Um álbum totalmente focado na linguagem musical AOR Westcoast, que invadiu as rádios FM no final dos anos 70 e no começo dos 80.

Steely Dan, Pages, Doobie Brothers, Todd Rundgren, Ned Doheny, Eric Tagg, Airplay, Boz Scaggs, Christopher Cross e Chicago são alguns nomes importantes que permearam e nortearam a ótica de Ed para este novo trabalho, o primeiro a ser lançado por sua própria editora musical, Dwitza Music, e distribuído em parceria com a gravadora LAB 344.

Muitas surpresas advém deste novo disco. Uma delas é que o disco foi gravado em duas versões: uma quase toda em português (com letras de Rita Lee, Adriana Calcanhoto, Edna Lopes, Chico Amaral, Dante Spinetta e o próprio Ed Motta), e outro em inglês, com letras de Rob Gallagher. O disco em português foi lançado apenas no Brasil e a versão em inglês no resto do mundo.

Outra surpresa é o time ultra-qualificado de músicos convidados. Além da banda base, que consiste em Robinho Tavares no baixo, Sérgio Melo na bateria e Glauton Campello nos pianos e teclados, o disco tem o mestre David T. Walker na guitarra, além de Bluey do Incognito, Torcuato Mariano, Chico Pinheiro, Jota Moraes, Jessé Sadoc (arranjador de metais de todas as faixas), o sempre e fiel escudeiro de Ed, Paulinho Guitarra, e muito mais.

A veia soul e a paixão jazzística pelas harmonias que são características de Ed Motta encontraram abrigo perfeito nessa nova empreitada, visto que todas as músicas exalam um apuro técnico, uma qualidade de composíção/arranjo/gravação lapidada até seu estágio mais avançado, culminando num néctar musical sofisticado e ao mesmo tempo atraente, do ponto de vista popular. AOR é a pop music servida em taça dourada.

Faixa a faixa:

Flores da Vida Real - possui uma progressão inicial de acordes (mesma do refrão) que serve como um crachá do estilo Westcoast. O arranjo de metais de Jessé Sadoc evoca os melhores tempos d'As Segundas Intenções do Manual Prático. O solo de sax é feito pelo autor da letra, Chico Amaral, e o solo de guitarra é de Torcuato Mariano.

S.O.S. Amor - a parceria Ed Motta/Rita Lee rende um novo fruto. Com cara de single, a música une a beleza das canções de Rita & Roberto com a meticulosidade do Steely Dan. A bateria de Sergio Melo evoca o estilo funky laid back de Bernard Purdie. Solo de guitarra classudo do mestre Paulinho Guitarra. E o piano de Glauton Campello é a cereja do bolo.

Epísódio - Aqui a coisa fica ainda mais séria. No melhor estilo Jay Graydon, a intro dobrada de guitarras de Paulinho Guitarra flerta com o AOR mais Rock, enquanto que os violões de Vinícius Rosa fornecem a calma ao tema. O quarteto de metais (Aldivas Ayres, Sadoc, Marcelo Martins e Zé Canuto) semeia um riquíssimo arranjo por toda a canção. E a letra cifrada de Edna Lopes parece ser um recado para alguém.

Ondas Sonoras - O renomado e lendário guitarrista David T. Walker contribui com estilo e finesse para a rica música de Ed, cuja linda linha de baixo de Robinho remete diretamente a Boz Scaggs. Ed cria brilhantes vocais de apoio, além de tocar clavinet e percussão.

Marta -  Além de ser a mais funk do disco (dá-lhe Robinho Tavares no groove do baixo), 'Marta' reflete a paixão de Ed por narrativas de HQ, seguindo a linha de 'Nicole versus Cheng', do disco Piquenique. Ambas são de autoria de sua esposa Edna Lopes. Além do tempero irresistível de Robinho, Glauton Campello dá  show no piano acústico e no belo solo de Rhodes. E não podemos esquecer que Bluey do Incognito está pilotando a guitarra!

1978 - Outra com letra de Edna, esta foi a primeira música apresentada por Ed Motta ao grande público. Ed dobra a linha de baixo de Robinho com seu clavinet. O destaque é o flugelhorn e trompete de Jessé Sadoc (o interlúdio de metais é divino), o Rhodes de Campello e o absurdamente bonito solo de guitarra fusion de Chico Pinheiro.

Latido - Com seu arranjo de metais que remetem à fase Aystelum, é uma prova de amor de Ed para com a Argentina, o Chile e nuestros hermanos latinos que tanto o amam. Traz Dante Spineta (letra e narração), filho do falecido Spinetta, cuja música Ed tanto aprecia.
É a única do disco que quase cai fora do escaninho AOR, flertando com o spiritual jazz, o latin jazz e o funk. Mas claro, vestida e arranjada de acordo com a estética do disco. O requintado vibrafone de Jota Moraes e os pianos elétricos de Campello colaboram para o clima jazzístico. A síncopa do ritmo é envolvente, do começo ao fim do tema.

AOR - A vinheta que dá nome ao disco. Toda gravada e tocada por Ed, a letra é quase uma oração ao estilo Westcoast, além de servir para informar aos incautos como pronunciar corretamente o nome do estilo!

A Engrenagem - Desde já, minha favorita. O Rhodes de Ed é a tônica do tema, um AOR quase progressivo, e o solo de Vinícius Rosa na guitarra sedimenta o clima complexo. O magnífico solo de teclado de Rannieri Oliveira, cheio de modulações no tom, lembra o clima da música Aja, com a bateria de Sergio Melo quebrando tudo. Amazing!
E a letra, de autoria do próprio Ed Motta, parece trazer um recado implícito, um aviso, uma verdade.

Mais do que eu sei - Música que não consta do CD (só é vendida pelo iTunes) carrega influências do dito AOR Hard Rock. E ao mesmo tempo, traz reminiscências da balada do disco Piquenique, 'Carência no Frio', principalmente por causa dos violões. Mas as inéditas guitarras pesadas injetam frescor à música de Ed. E o belo solo de guitarra, todo harmonizado? Caberia tranquila em algum disco do Toto ou do Foreigner. A preferida de minha esposa.

Resumo: Discaço! A única crítica negativa a se fazer é que o álbum é muito curto, pois música deste nível é desejável de se ouvir muito, e sempre. Mas não tem como não dar 5 estrelas. Obrigado, Ed, por nos permitir ouvir sua fabulosa música.

1. Flores da Vida Real
2. S.O.S Amor
3. Episódio
4. Ondas Sonoras
5. Marta
6. 1978
7. Latido
8. AOR
9. A Engrenagem


Ed Motta - 1978

Ed Motta - Marta Site Oficial: Ed Motta

Um comentário :

  1. Muito boa a resenha, sou apaixonado nesse disco, ouço sempre, foram informações valiosíssimas, ainda mais pra quem é músico como eu, obrigado!

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