quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Entrevista Exclusiva: Nuno Mindelis

Olá a todos...
Recentemente tive o imenso prazer e alegria de entrevistar o grande guitarrista/cantor Nuno Mindelis. Nessa entrevista exclusiva que o musico concedeu ao Blog Jazz e Rock ele conta desde os primeiros contatos com a musica até a consagração como um ícone do Blues no Brasil e no mundo. Sem mais demoras deixo vocês com as palavras de Nuno Mindelis que prova que além de excelente guitarrista é também uma excelente pessoa!.



Nuno, conte-nos como foi o seu inicio na música? Como teve o seu primeiro contato com a guitarra?

Desde que me lembro de mim queria tocar qualquer instrumento, ficava tocando com latas , panelas etc. Durante as aulas, no primário, tocando na carteira e nos estojos de lata dos lápis, usando canetas como baquetas etc. . Construía violões com caixinhas de bombons e fio de pesca (como cordas), tocava raquetes de tenis como se fossem guitarras etc. Não consigo saber porque isso aconteceu, a sensação que tenho é a de que já nasci assim, músico. Da mesma forma que desenho desde que me lembro de mim, uma coisa nata.

Quais foram os seus primeiros heróis da guitarra?

Ouvi o guitarrista dos Shadows quando tinha uns 7 anos, estava acostumado a ouvir instrumentos sinfônicos, (meus pais ouviam bastante música clássica) e de repente ouvi aquela guitarra tipo surf, com tremolo e vibrato tocando "Apache" . Caí de costas. Aos nove ouvi Otis Redding obsessivamente, por indicação de um cara mais velho que percebeu e se interessou pela minha clara obsessão pela música. O guitarrista de Otis era Steve Cropper. (Tive a honra de ser anunciado com ele na Inglaterra, em 2008, no mesmo evento e na imprensa) . Depois ouvi Big Bill Broonzy por volta dos 12 anos. (música "Hush", violão acústico ) . Entretanto já tinha ouvido "Revolution" dos Beatles com aquela guitarra ultra saturada, (até para os dias de hoje) e depois , entre os 12 e os 17 eu ouvi tudo o que tocava no planeta, literalmente. Destaque para influências irremediáveis de Hendrix, Santana, John Fogerty, B.B King, Canned Heat (cujos guitarristas eram Henry Vestine e Harvey Mandel), Mick Grabham (Procol Harum) Rory Gallagher etc.

E hoje quais são as suas principais influências musicais?

Não me sinto influenciado por nada novo, no plano da guitarra. As minhas inflências na guitarra são as que ouvi até uns 20 anos de idade, no máximo. (os últimos foram George Benson e Helio Delmiro, por volta de 1976 ou 1977) . As minhas influências agora são as sonoridades das novas gerações, alguma eletrônica, alguma rítimica rap (diferente de gostar de rap) e melodias . Não curto complicações ou complexidades, neste momento. Gosto de cancões com melodias lindas e simples, coisas improváveis como Put your records on the Corinne Bailey Rae ou Yellow , de Coldplay. Gosto bastante de Foo Fighters, e de bandas novas de rock inglês . Também de cantoras / instrumentistas / compositoras boas, como KT Tunstall, Nora Jones , Joss Stone etc.


Você costuma ouvir blues no seu dia-a-dia ou você é um ouvinte eclético?

Não ouço blues há muito tempo. Ouço muito mais outras coisas . Ouço blues por acaso, se estiver tocando no rádio. E só compro discos de um ou outro artista, quando saem, como Dylan , Booker T. , Dave Mason. Às vezes Van Morrison, Stephen Stills...

Qual foi a sua primeira guitarra ?

Uma Gibson Lespaul Custom, comprei aos 17 anos no Canadá. É de 70 ou de 71. Trabalhei dois ou três meses de faz-tudo , no Canadá, (incluia varrer o chão de uma fábrica gigante) para comprá-la.



Como foi gravar com a Double Trouble?

Foi uma experiência interessante, gravamos o disco Texas Bound em menos de três dias, (1 dia e meio de gravação e outro tanto de mixagem). Depois gravamos outro álbum, Blues on the Outside , um pouquinho mais de tempo, uma semana.(dois dias de banda e restante para mix e overdubs, backing vocals, metais etc.) . Durante esses períodos sempre demos bastante risada, almoçamos e jantamos junto, ouvi grandes histórias. Eu já era fan de Tommy Shannon de muito antes de SRV e de Double Trouble, da época que ele tocou com Johnny Winter e com Uncle John Turner. (inclusive em Woodstock) . Eu tinha uns 14 anos, 1971 a 73 por aí. Aliás, o Uncle John que eu idolatrava de pequenininho virou um enorme amigo, fiquei muito mal com a sua morte há uns dois ou três anos atrás. Com todos eles fiz turnês, com Double Trouble aqui no Brasil inclusive, extensa, que incluiu encerramento no Credicard Hall. Com Uncle John na Europa , EUA e Brasil. Aprendi mais com ele em alguns anos durante essas turnês do que em 30 anos com outras pessoas. O Chris e o Tommy quiseram produzir um disco meu , insistiram várias vezes. E eu acabei deixando passar. Não me arrependo de nada, mas essa está começando a chegar perto...os convidados poderiam ser do quilate de Dr.John, Doyle Bramhall Jr , e coisas do tipo.

Como foi o processo de gravação do seu novo álbum? Como surgiu a idéia do Free Blues? Qual foi seu critério para fazer o repertorio desse álbum?

Eu andava irrequieto, digamos, há muito tempo. Meio cansado do blues que não muda há mais de quarenta anos. O que Clapton, Jimmy Page, Jeff Beck e enfim , todo o mundo fez nos anos 60/70 já era uma atualização do gênero, pela injeção de rock and Roll, psicodelia e eletricidade em altas doses. E até hoje ficou naquilo, se repararmos. Não mudou. A sonoridade do blues continua a ser sessentista / setentista. Isso me cansou não só do blues como paralelamente de mim mesmo. (eu toco desde aquela época, são quarenta anos!) Tudo isso levou à idéia de Free Blues. Um amigo me perguntou "porquê você não grava um disco com clássicos do Blues com sonoridade contemporânea, para que as gerações de hoje saibam o que é blues com roupa atual" ? Aí eu peguei em temas que fizeram a minha cabeça quando era menino, nos anos 60/70 e usei a mesma fórmula, só que em vez de adicionar somente eletricidade, psicodelia e rock and roll, usei também eletrônica, rap, lounge, house , disco , etc. No álbum "Outros Nunos",de 2005 (que você menciona na próxima pergunta) , eu já tinha começado isso, de certa forma, mas fui pelo lado mais literário, convidados MPB / Rap, Zélia Duncan, Rappin Hood .

Você é um musico que tem o blues como base, mas já “visitou” outros estilos, como no álbum Mindelis apresenta: outros Nunos. Qual é a reação do publico de blues ao receber esse tipo de novidade?

Algum pessoal estranha , mas outros que não te conheciam passam a conhecer e eventualmente gostar bastante dessa nova fase. E recebo muitos inputs de tradicionalistas que confessam ter prestado mais atenção e acabam por compreender e gostar bastante dessas experiências. Agora mesmo um purista elogiou Free Blues e disse algo interessante: "minhas últimas gotas de preconceito foram para esse CD" . Porque , no fundo, é como você disse, o blues é a base de tudo o que eu fizer, e isso não se confunde com o formato final. É o DNA , mesmo que eu faça Samba, é o blues que está fazendo.

Você que já gravou vários álbuns de estúdio não pretende gravar um ao vivo? Um dvd?

Estaria mais interessado num álbum ao vivo, até, do que num DVD. Não sou grande fan de DVDs, gosto de ouvir música e não de dividir o sentido da audição com o da visão. Ouvir música e assistir a um DVD são atividades bem diferentes para mim. É claro que o público não tem nada a ver com isso, mas o fato é que essa percepção provavelmente freia a minha determinação de gravar um DVD. Não é o grande objetivo tecnológico e fonográfico , como para a maioria dos músicos atualmente. Depois tem a grana, isso requer verba e o blues é um gênero pobre. Se alguém , algum selo, enfim, quiser fazer eu não me oponho, faça e venda, ótimo. Mas não corro atrás.



Qual seu equipamento de estúdio e de palco?

No palco geralmente uma Gibson SG 1972 (Kalamazoo) , um pedal Wah Wah antigo e um amp Fender Twin Reverb (Blackface). Às vezes uso um 'Greene" pedal (distorção) que me foi oferecido pelo fabricante, num show na Holanda. Mas só uso esse tipo de pedal quando não encontro um valvulado em condições. De forma geral, a distorção da válvula é suficiente. Mais raramente ainda uso um pre amp valvulado, Pre Sonos , muito bom, especialmente quando te entregam um amp em desacordo, em algum show longínquo onde você não conseguiu levar o seu. Em estúdio, além disto , uso a Lespaul Custom , uma Fender Stratocaster 1958, uma Shecter dos 80s que ganhei da Guitar Player Magazine/EUA (como prêmio em concurso de guitarra) e no Free Blues mais especificamente usei outros efeitos, Delay DL4 da Line Six, Guitar Rig (plugins) .

Como você vê o cenário da música no Brasil atualmente?

Há vários angulos. Um deles, de cunho pessoal , artístico e cultural, é que aparentemente as pessoas começam a tocar para ser famosas e não para aprender. Isto é um fato . Parece que se passou por cima da fase de aprendizado, que geralmente requeria um mínimo de oito horas por dia estudando um instrumento ou estudando canto. É espantoso ver como são lançadas (e aduladas pela crítica??!!) cantoras que não sabem cantar e músicos que não sabem tocar. Já do ponto de vista de produção e/ou mercado , o cenário da música atualmente está muito mais difícil porque a queda das gravadoras (e consequentemente do mercado do disco, lojas e do próprio suporte físico ) representa a paralisação de projetos musicais por falta de verba. Das duas vezes em que gravei com a Double Trouble tive apoio financeiro de gravadoras que por sua vez sabiam que poderiam investir pois recuperariam o investimento em vendas de discos. (viagens, estúdio nos EUA, acomodações , alimentação , enfim, tudo) . Agora ninguém aposta nisso, até porque as novas gerações nem têm mais apego ao disco, já nem sequer baixam discos piratas, na verdade consomem música como se fosse mais uma commoditie, como gás, água encanada, Last FM, Pandora, playlists nos navegadores , etc. e tal.


Você acha que o blues feito no Brasil hoje é um blues que se difere do feito no resto do mundo?

Só existe um tipo de blues: o blues bem feito. Esse não difere em lugar nenhum do mundo.



Nas ultimas entrevistas, inauguramos uma nova coluna no BLOG. É uma cópia descarada (risos) de uma coluna da Cover Guitarra. Indo direto ao ponto:

Pra você qual é o melhor álbum da história?

Não sei porquê sempre me vem Dark Side of The Moon à cabeça...

Qual disco você tem ouvido bastante na última semana?

Cosmic Wheels , de Donovan ( o Donovan Leitch, agora há vários Donovans).

Qual disco você curte, mas tem vergonha de admitir?

Não tenho vergonha de admitir nada do que gosto, mas compreendo o sentido da pergunta e posso dizer que gosto muito de algumas (poucas) músicas do Biafra. À exceção do texto (que é claramente pseudo-poético, piegas enfim) algumas melodias e o timbre de voz são muito bonitos, uma combinação feliz de timbre e melodia, como em Elton John, por exemplo.

Nuno quero agradecer a oportunidade da entrevista , sem dúvida uma oportunidade de conhecer o seu trabalho e um pouco da sua história e trajetória musical. Desejo muito sucesso para você ! Grande Abraço !

Oi Thiago, eu agradeço igualmente pela oportunidade e também desejo o máximo sucesso ! Abraço

2 comentários :